Ricardo Nunes vence eleições mais conflagradas da história de São Paulo
Eleição de emedebista é considerada uma derrota retumbante do presidente Lula e um marco para o governador Tarcísio de Freitas
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), foi reeleito neste domingo, 27, no pleito mais visceral, mais disputado e conflagrado da história da capital paulista. Com 100% das urnas apuradas, Nunes teve 59,35% dos votos válidos contra 40,65% de Guilherme Boulos (PSOL).
A eleição de Nunes significa também uma vitória do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e uma derrota retumbante do presidente Lula. O petista apostou todas as suas fichas na candidatura de Boulos e contrariou até mesmo algumas alas do partido na capital paulista, que endossaram outros nomes como de Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação do PT, e da deputada federal Tabata Amaral (PSB), que ficou em quarto na disputa pelo Palácio do Anhangabaú.
Nem mesmo a máquina partidária do PT ajudou a alavancar a candidatura de Boulos. Antes mesmo da campanha, ainda durante a pré-campanha, Lula foi condenado por ter cometido crime eleitoral ao pedir voto antecipadamente para Boulos durante um evento de 1º de maio. Lula foi multado em 20 mil reais em junho pelo juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci.
O PT e o PSOL investiram na campanha de Boulos aproximadamente 82 milhões de reais. Somente a direção nacional do PT aportou em torno de 45 milhões de reais na campanha do candidato de Lula. A título de comparação, isso representou um terço de tudo aquilo que Lula gastou na campanha presidencial e 2022.
O petista gravou vários vídeos para a campanha de Boulos, um deles, inclusive, dentro do Palácio da Alvorada – fato que gerou questionamento de parlamentares de oposição. Havia a expectativa de Lula realizar um ato de campanha no final do segundo turno, mas a ideia foi abortada após o presidente passar por um acidente doméstico.
Nem o apoio da esquerda, de Lula, de intelectuais de esquerda e o suporte financeiro conseguiram anular o ponto nefrálgico da candidatura de Boulos: a imagem de radical. Ao longo de toda a campanha, o deputado federal tentou afastar alcunha de invasor de residências. Não colou.
Após ter imensas dificuldades para conseguir chegar ao segundo turno (ele ficou em primeiro, mais pouco menos de 100 mil votos na frente do terceiro colocado, Pablo Marçal – PRTB), coube ao prefeito de São Paulo apenas administrar a vantagem na fase final da campanha eleitoral. De cinco debates realizados, Nunes faltou a dois e participou daqueles que ele classificou como essenciais: Band, TV Record e o da TV Globo, na véspera do segundo turno.
No segundo turno, Nunes também apostou na chamada ‘campanha propositiva’, focando na apresentação de propostas e fugindo dos ataques de Boulos. O emedebista foi questionado, principalmente, sobre a falta de ação da Prefeitura de São Paulo ao longo da crise energética em outubro – que deixou 3,1 milhões de lares paulistanos sem luz – e sobre seu vínculo com pessoas investigadas pela Polícia Federal na chamada máfia das creches.
Apesar de não ter aparecido ao longo do primeiro turno, o ex-presidente deu as caras na última semana de campanha, em um apoio envergonhado em uma churrascaria em São Paulo.
A vitória do MDB em São Paulo também é uma vitória do atual presidente da sigla, Baleia Rossi, em sua tentativa de ressignificar o partido após as investigações da operação Lava Jato. Essa é a primeira vez que o partido consegue eleger o prefeito da maior cidade do país.
A revelação do ano: Pablo Marçal
As eleições em São Paulo também foram marcadas pela revelação de um novo nome na política brasileira: Pablo Marçal. O influenciador digital do PRTB inovou a forma de se fazer política e abalou as bases da direita ao se colocar como um sucessor do reinado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Com sua política de lacração ao estilo Jair Bolsonaro, o ex-coach ganhou o coração do eleitor mais alinhado ao ex-presidente e conseguiu contornar o apoio público do capitão reformado ao prefeito Ricardo Nunes.
A campanha deste ano para a prefeitura de São Paulo também foi marcada pela violência e por atos atípicos. Houve uma cadeirada de Datena em Marçal no debate da TV Cultura e no debate do Flow um assessor de Marçal deu um soco no olho do coordenador de campanha de Nunes, Duda Lima.
Por isso, os debates foram marcados por muita tensão. O da Rede TV teve cadeiras parafusadas; no da TV Record, foram proibidos copos de vidro. E no da TV Globo, a segurança dos candidatos foi reforçada.
O último episódio de uma campanha conflagrada foi a divulgação de um falso laudo médico por Pablo Marçal para comprovar o suposto uso de cocaína por Guilherme Boulos às vésperas do primeiro turno. Em menos de 24 horas, o laudo foi desmentido – inclusive pela Polícia Civil de SP – e o ex-coach passou a ser alvo de investigações da Polícia Federal e do ministro do STF Alexandre de Moraes por burlar a decisão de uso do X.
Quem é Ricardo Nunes, o novo prefeito de São Paulo?
Ricardo Nunes, 56 anos, nasceu em São Paulo (SP). Com nível superior incompleto, é empresário, presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de São Paulo e atual prefeito da cidade. Em 2012 e 2016, foi eleito vereador do município. Em 2020, concorreu ao cargo de vice-prefeito da capital paulista, ao lado de Bruno Covas. Com a morte de Covas, Ricardo Nunes assumiu o cargo de prefeito.
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