Ramagem gravou reunião com Bolsonaro para blindar Flávio?
Relatório da Polícia Federal que embasou operação sobre 'Abin Paralela' menciona áudio de uma hora com conversa entre o então diretor da Abin, Jair Bolsonaro, Augusto Heleno e uma advogada do senador
A quarta fase da Operação Última Milha, deflagrada nesta quinta-feira, 11, pela Polícia Federal (PF) para deter integrantes da Abin Paralela do governo Jair Bolsonaro, tem em seu embasamento a indicação de que Alexandre Ramagem (foto), então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), gravou uma reunião realizada com o então presidente da República para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP).
De acordo com os registros da PF, o encontrou reuniu em 25 de agosto de 2020 o hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro Ramagem (PL-RJ), Bolsonaro, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e uma advogada do senador.
“A premissa investigativa ainda é corroborada pelo áudio de 01:08 (uma hora e oito minutos) possivelmente gravado pelo Del. ALEXANDRE RAMAGEM no qual o então PRESIDENTE DA REPÚBLICA JAIR BOLSONARO, GSI GENERAL HELENO e possivelmente advogada do Senador FLAVIO BOLSONARO tratam sobre as supostas irregularidades cometidas pelos auditores da receita federal na confecção do Relatório de Inteligência Fiscal que deu causa à investigação”, escreveu a PF”, diz o relatório da PF.
O documento segue: “O áudio transcrito na IPJ N° 2404151/2024 apresenta metadados do dia 25/08/2020. Neste áudio é possível identificar a atuação do Del. ALEXANDRE RAMAGEM indicando, em suma, que seria necessário a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da receita (Escor07) com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.
“As ações se concretizaram”
Ainda segundo a PF, as ações tratadas no áudio “se concretizaram”, de acordo com fontes “abertas às ações tratadas”. A investigação sobre um esquema de rachadinha que teria como beneficiário Flávio Bolsonaro de fato acabou anulada pela Justiça.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou nesta quinta o sigilo da operação da PF que investiga a Abin Paralela. De acordo com as apurações, além de Moraes, os aliados de Bolsonaro monitoraram os ministros do STF Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, parlamentares e profissionais de comunicação.
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Abin do B
Em 11 de dezembro de 2020, O Antagonista repercutia matéria da revista Época sobre a ajuda da Abin à defesa de Flávio. Uma semana depois, em 18 de dezembro daquele ano, Crusoé publicou matéria de capa, intitulada “A Abin do B”, com informações inéditas sobre o caso.
Um trecho da reportagem de Crusoé dizia o seguinte sobre a reunião de 25 de agosto mencionada pela PF, em que Bolsonaro topou receber duas advogadas que haviam assumido a defesa de Flávio (o senador não compareceu porque havia contraído Covid-19):
“A ideia era discutir um novo plano de ação que pudesse anular as provas obtidas pelo Ministério Público do Rio no esquema de rachid, que teria desviado 6 milhões de reais dos cofres da Assembleia Legislativa fluminense. Para o encontro, que ocorreu no dia 25 de agosto sem nenhum registro na agenda oficial, Bolsonaro convocou o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, e Alexandre Ramagem, o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, aparato estatal criado há 21 anos para municiar o presidente da República de informações estratégicas a fim de proteger o estado.”
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