A Polícia Federal (PF) pediu na terça-feira, 30, a quebra dos sigilos bancário e fiscal do deputado federal André Janones (Avante-MG), investigado por suspeita de fazer rachadinha em seu gabinete. Nesta quarta, o Estadão revelou um dos ex-assessores do parlamentar alegou que estava bêbado quando comentou com colega sobre a devolução de parte do salário, em conversa gravada. A polícia viu “inconsistências” e “contradições” nos depoimentos sobre o caso, destaca a reportagem.

“O diálogo ao qual Alisson Alves Camargos, ex-assessor de Janones, se refere foi com Fabrício Ferreiro de Oliveira, outro ex-funcionário do gabinete. Os dois conversavam sobre quanto de seus salários cada um supostamente devolvia ao deputado. ‘Mas é quase 5 conto que eu passo pra eles, Fabricio. Eu tiro 9 mil… Nem 9 mil eu não tô tirando. 9 mil, assim, no papel, entendeu? É, não é fácil não, Fabrício’, disse Alisson no áudio, que faz parte do inquérito da PF’, diz o Estadão.

“Brincadeira de mau gosto”

Segundo a defesa de Alisson, que chegou a perguntar a Fabrício se a conversa estava sendo gravada, o cliente não apenas estava embriagado no momento da gravação como se valeu de uma “brincadeira de mau gosto” para “despistar” o colega, que costumava lhe pedir dinheiro emprestado.

Após a PF apresentar pedido de quebra de sigilo ao Supremo Tribunal Federal (STF), Janones voltou a comentar o caso em seu perfil no X, ex-Twitter, nesta terça:

“Me causa estranheza a PF pedir a quebra de meu sigilo fiscal e bancário, sendo que eu já os coloquei a disposição desde o início das investigações, e até hoje não fui sequer ouvido.

Mais estranho ainda é apontarem como ‘suspeito’, um depósito feito quando nenhum dos assessores investigados trabalhavam mais em meu gabinete.

Como eles devolviam salário 3 anos após serem exonerados ?

Sigo ABSOLUTAMENTE confiante que serei absolvido, afinal, eu não devo, quem deve são os bolsonaros, que recorreram até a última instância pra não terem seus sigilos quebrados, e até hoje não justificaram como conseguiram comprar 70 imóveis em dinheiro vivo.

Ao final, a verdade prevalecerá, tanto aqui quanto lá! Eu creio.”

Áudio de Janones

Janones sugeriu, em 2019, a criação de uma “vaquinha” mensal entre os servidores de seu gabinete na Câmara dos Deputados, como revelou gravação que veio a público no fim de novembro de 2023.

No áudio, gravado na mesma reunião em que o deputado defendeu o pagamento de despesas de campanha com rachadinha, um dos assessores afirmou que esta seria “a única saída para Janones disputar a eleição sem ceder ao sistema”, referindo-se ao recebimento de doações de empresas e ao desvio de verbas públicas.