A primeira matéria do Globo sobre o áudio de Joesley Batista com Michel Temer cravou uma anuência clara do presidente da República (“Tem que manter isso aí, viu?”) à propina supostamente paga pelo empresário para comprar o silêncio de Eduardo Cunha.

O áudio, no entanto, revelou que Temer pronunciou a frase após Joesley dizer “Eu tô de bem com o Eduardo” – antes, portanto, das menções mais sugestivas do empresário como “todo mês… também”.

No pronunciamento deste sábado, o presidente usou a seu favor esse deslocamento pontual para alegar que os brasileiros foram induzidos a erro.

Também se induz os brasileiros a erro de julgamento, porém, quando se usa tal comparação para fazer parecer que são irrisórios os fatos graves do encontro secreto com o investigado e da passividade de Temer ao ouvi-lo relatar, no mínimo, indicações de que estaria realizando pagamentos a Cunha, recebendo informações de um procurador infiltrado (o que é fato – ele foi preso) e “segurando” juízes para salvar a própria pele.

Nem as discussões sobre cortes noutros trechos do áudio, nem a atuação de um ex-procurador ligado a Rodrigo Janot no acordo de leniência de Joesley Batista deveriam fazer os brasileiros se esquecerem disso, independentemente se concordam ou não com sua renúncia ou com a abertura de um processo de impeachment.

Enquanto o inquérito corre por fora, Temer, claro, seguirá explorando as brechas jurídicas e políticas que lhe foram dadas, na esperança de que o dólar caia, a bolsa suba e ele saia até fortalecido dessa turbulência.

Mas, como sempre repete O Antagonista, dois erros não fazem um acerto.