Quanto custou ao STF a ida de Toffoli à final da Champions
O ministro do STF era um dos convidados do camarote comprado por dono de empresa que patrocinou evento jurídico em Londres que chamou atenção para as viagens dos integrantes do Supremo ao exterior
O Supremo Tribunal Federal (STF) gastou 39 mil reais com as diárias internacionais de um segurança designado para acompanhar o ministro Dias Toffoli em viagem à Inglaterra entre 25 de maio e 3 de junho, que incluiu a ida à final da Uefa Champions League com empresário patrocinador de fórum jurídico em Londres, registrou a Folha de S.Paulo.
Segundo o jornal, o STF não quis confirmar a viagem do magistrado, mas as informações sobre o pagamento das diárias ao segurança estão no Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira).
Toffoli, que mais uma vez não teve a agenda no exterior divulgada, participou remotamente da sessão de 29 de maio.
A Corte, por sua vez, passou o pano, dizendo que “nenhuma viagem reduz o ritmo de trabalho e os estudos por parte do ministro, que segue trabalhando em seus votos, em suas decisões e participando das sessões colegiadas”.
Toffoli na final da Champions
O ministro Dias Toffoli, do STF, assistiu à final da Uefa Champions League entre Real Madrid e Borussia Dortmund, no estádio de Wembley, em Londres, no sábado, 1º.
O magistrado, segundo O Globo, era um dos convidados do camarote comprado pelo empresário Alberto Leite, dono da FS Security. A empresa foi uma das patrocinadoras do 1º Fórum Jurídico Brasil de Ideias, realizado em Londres, no fim de abril, do qual participaram Toffoli, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.
Ao jornal, o ministro do STF afirmou que as despesas da viagem foram pagas com recursos próprios. Ele, contudo, não informou que pagou a segurança.
Toffoli reclama da vigilância
Em maio, Dias Toffoli reclamou da vigilância da imprensa sobre as viagens sem prestação de contas dos ministros do STF à Europa. À Folha, o magistrado, que na ocasião estava em Madri, na Espanha, participando de mais um evento jurídico, afirmou que as matérias publicadas são “absolutamente inadequadas, incorretas e injustas”.
O ministro Dias Toffoli, do STF, nunca gostou de ser vigiado.
Em sua sabatina no Senado Federal em 2009, o então postulante ao cargo de ministro do STF afirmou que sua ligação com o PT “é uma página virada da história” e que no Supremo passaria a agir como “juiz da Nação”.
Em 2015, sobre quem acha que ele tem uma dívida com o PT por ter sido nomeado por Lula para a Corte, Toffoli disse à Veja que “é só um ignorante, um imbecil, um burro, um néscio para pensar dessa forma”.
Em 12 de abril de 2019, Toffoli enviou a seu colega Alexandre de Moraes uma mensagem, requerendo – “diante das mentiras e ataques” que ele genericamente alegava existirem em matéria da Crusoé, repercutida em O Antagonista – “a devida apuração das mentiras recém-divulgadas por pessoas e sites ignóbeis que querem atingir as instituições brasileiras”.
Amigo do amigo…
Em 15 de abril de 2019, a mensagem em que Toffoli repetia a palavra “mentiras” e falava em “ataques” feitos por “pessoas e sites ignóbeis” veio à tona com a divulgação da decisão de Moraes, tomada no dia 13, de censurar a reportagem sobre o codinome “amigo do amigo do meu pai”, pelo qual Marcelo Odebrecht, em e-mails internos da empreiteira, referia-se a Toffoli, amigo de Lula, o amigo de Emílio, pai de Marcelo.
Como comentou Felipe Moura Brasil na ocasião, Toffoli, um dos onze ministros do STF, tentou fazer uma informação comprometedora a seu respeito parecer um ataque as instituições brasileiras, quando nem sequer se tratava de um ataque a ele, muito menos ao Supremo; mas sim da vigilância do jornalismo independente. Começou ali a estratégia de alegar defesa da democracia para legitimar medidas autoritárias contra pessoas e portais inconvenientes aos ministros do STF.
Em 18 de abril de 2019, porém, o então decano do STF, Celso de Mello, divulgou nota contra o autoritarismo dos colegas, embora sem citá-los diretamente: “A censura, qualquer tipo de censura, mesmo aquela ordenada pelo Poder Judiciário, mostra-se prática ilegítima, autocrática e essencialmente incompatível com o regime das liberdades fundamentais consagrado pela Constituição da República”.
No mesmo dia, com o aumento da pressão, Moraes revogou a censura a Crusoé e O Antagonista.
Ambos os veículos continuam e continuarão vigiando o poder, apesar de todas as retaliações e manifestações de desgosto.
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