“Puseram lá um hacker para monitorar minhas ligações”, diz ex-presidente da Apex
Demitido do comando da Apex após 90 dias no cargo, o embaixador Mario Vilalva está disposto a expor todos os detalhes do que chama de "esquema imoral" montado na agência por dois diretores apadrinhados do chanceler Ernesto Araújo. Em entrevista a O Antagonista, Vilalva, diplomata há mais de quatro décadas, se diz chocado com o comportamento de Letícia Catelani e Márcio Coimbra. Acusa ambos de "atos antiéticos", alguns até legalmente questionáveis...
Demitido do comando da Apex após 90 dias no cargo, o embaixador Mario Vilalva está disposto a expor todos os detalhes do que chama de “esquema imoral” montado na agência por dois diretores apadrinhados do chanceler Ernesto Araújo.
Em entrevista a O Antagonista, Vilalva, diplomata há mais de quatro décadas, se diz chocado com o comportamento de Letícia Catelani e Márcio Coimbra. Acusa ambos de “atos antiéticos”, alguns até legalmente questionáveis.
“Em pouco tempo, me dei conta de que esses dois diretores têm agendas pessoais, usam suas posições para autopromoção. Eu diria que essas agendas incluem atos antiéticos, um comportamento que não é normal.”
Além dos exemplos já conhecidos, como a instalação de uma porta para impedir Vilalva de acessar o corredor das salas de Catelanin e Coimbra, o embaixador afirma que seus passos e até suas comunicações eram monitoradas por um hacker contratado pela diretora de Negócios.
“Puseram lá um japonês, que ficava sentado numa sala de vidro que dava para o meu gabinete, para a sala do meu chefe de gabinete e a do meu secretário. E ficava lá sentado, com um computador, olhando para gente. Eu perguntei o que ele fazia lá, mas eles não me responderam. Até que veio a informação de que era um hacker que estava ali, observando os movimentos de entrada e saída da minha área e que ele estaria monitorando as ligações telefônicas e os emails.”
Segundo Vilalva, até seus deslocamentos eram vigiados. “Assediavam meu motorista, que veio a mim reclamar, constrangido. Perguntavam para onde eu ia, o que fazia, com quem me reunia. É surreal.”
Ao mesmo tempo, ressalta o embaixador, seus subordinados não prestavam conta de nada, nem de compromissos internos ou externos.
“Nesse pouco tempo que estive lá, soube que o Márcio Coimbra viajou para a China, Japão, Estados Unidos e até para Israel, onde se juntou à comitiva presidencial. É difícil dizer o que o diretor de Gestão foi fazer nesses lugares. Não há relatório de missões, nada me foi comunicado. Onde está a prestação de contas dessas viagens? Eu nunca vi.”
Em 43 anos de carreira diplomática, Vilalva comandou as embaixadas brasileiras no Chile, em Portugal e na Alemanha. Antes disso, dirigiu o departamento de comércio exterior do Itamaraty, que deixou de existir na gestão de Ernesto Araújo.
“Quando o chanceler me convidou, ressaltou a minha experiência e disse que minha missão seria promover a integração total da Apex ao Ministério das Relações Exteriores. Em menos de 20 dias, percebi que não poderia exercer minhas funções de presidente e que deveria atender a demandas que não eram normais à luz das funções estabelecidas pela lei da Apex, pelo decreto que a regulamenta e pelo próprio estatuto – que depois foi modificado sorrateiramente.”
Vilalva fala ainda do que chama de “omissão” de Letícia Catelani, diretora de Negócios, “incapaz de cumprir a missão básica da Apex”, que é negociar com os setores exportadores organizados, ajustar estratégias – participação em feiras internacionais, missões comerciais, estudos de mercado etc – e firmar convênios com as entidades que representam os produtores.
“Eu passei a receber reclamações das entidades de que os convênios estavam parados. “A gente se reunia, negociava e depois ela sumia. A pessoa num cargo desse não pode fugir de suas responsabilidades. Não é só garantir um bom salário, uma boa posição e um automóvel oficial.”
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