Problemas técnicos antecederam acidente com avião da Voepass
Problemas mecânicos recorrentes e formação de gelo nas asas estão entre as hipóteses investigadas para o acidente com avião da Voepass
O acidente aéreo que resultou na queda do ATR-72-500 da Voepass em Vinhedo, no interior de São Paulo, deixando 62 mortos, é cercado de questionamentos sobre a segurança da aeronave. Antes da tragédia, o avião, de prefixo PS-VPB, já havia enfrentado uma série de problemas técnicos que exigiram diversas intervenções de manutenção, registrou reportagem do G1.
Segundo levantamento do programa Fantástico, a aeronave passou por várias interrupções de voo desde o início do ano, a começar por uma parada em 11 de março, quando, após uma viagem de Recife para Salvador, um relatório oficial apontou falhas no sistema hidráulico e um “contato anormal” com a pista durante o pouso. Fontes indicam que esse contato foi, na verdade, um choque da cauda com o solo, causando dano estrutural ao avião.
“O sistema hidráulico é crucial para a segurança de qualquer aeronave. O fato de ter havido dano estrutural deveria ter levado a uma investigação minuciosa sobre a manutenção feita”, alerta o comandante Ruy Guardiola, especialista em ATR no Brasil que falou ao programa.
Avião ficou longo período fora de operação
Após o incidente em Salvador, o ATR ficou estacionado por 17 dias na capital baiana antes de ser transferido para a oficina da Voepass em Ribeirão Preto (SP), onde passou por reparos. Somente em 9 de julho, mais de três meses depois, o avião voltou a operar comercialmente. Contudo, a primeira rota, de Ribeirão Preto a Guarulhos, foi marcada por uma despressurização em pleno voo, forçando a aeronave a retornar para Ribeirão Preto, onde permaneceu por mais quatro dias para novos ajustes.
O ATR-72-500 retomou suas operações em 13 de julho, voando até a data do acidente fatal. A sequência de problemas levanta questões sobre a eficácia das manutenções realizadas e se elas foram suficientes para garantir a segurança do voo.
Na véspera do acidente, a jornalista Daniela Arbex estava a bordo da aeronave e relatou ao Fantástico que o sistema de ar-condicionado não estava funcionando adequadamente, gerando desconforto entre os passageiros. Arbex expressou preocupação com a manutenção geral da aeronave: “Se eles não conseguem manter o ar-condicionado, como posso confiar na segurança do voo?”.
Outro ponto a ser analisado é a formação de gelo nas asas, um fenômeno comum em altitudes operadas por aeronaves turboélice como o ATR-72-500. Relatos indicam que outros pilotos, que cruzaram a mesma rota naquele dia, enfrentaram condições semelhantes.
Investigações em andamento
Especialistas sugerem que o acúmulo de gelo nas asas pode ter contribuído para a queda do avião. Há 30 anos, um acidente similar nos Estados Unidos, envolvendo um ATR da American Eagle, foi atribuído a essa causa. No caso atual, os dados do Flight Radar indicam que o ATR-72-500 estava voando a uma altitude de 17 mil pés antes de entrar em um “parafuso chato”, termo técnico que descreve a perda de sustentação.
Além dos problemas técnicos, há críticas sobre as práticas operacionais da Voepass, especialmente após a pandemia. Henrique Haaklander, presidente do sindicato dos aeronautas, destacou que os níveis de fadiga dos tripulantes aumentaram, o que pode impactar a segurança operacional. Um ex-comissário da Voepass também relatou ao Fantástico que a manutenção das aeronaves era deficiente, colocando a segurança em risco.
O comandante Ruy Guardiola, que já trabalhou na Voepass, relatou um caso preocupante envolvendo a manutenção do sistema antigelo da aeronave, onde um palito de fósforo foi usado como solução temporária.
Conclusões preliminares sobre o acidente
Embora as investigações ainda estejam em fase inicial, alguns fatores já são considerados prováveis causas do acidente: falha na detecção do acúmulo de gelo pelas equipes, problemas nos procedimentos de voo em condições adversas, e possíveis impactos de danos estruturais anteriores.
A Voepass, em comunicado, afirmou que a aeronave estava “aeronavegável” e que todas as manutenções foram realizadas conforme as exigências legais. A empresa também destacou que seu foco atual está em prestar assistência às famílias das vítimas.
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