Precisamos de um bobo da corte presidencial
Por Mario Sabino - Publicado originalmente em 22.05.17, na nossa newsletter Se um dia viermos a fazer uma reforma política digna do nome, sugiro que seja criado oficialmente o cargo de bobo da corte presidencial...
Por Mario Sabino – Publicado originalmente em 22.05.17, na nossa newsletter
Se um dia viermos a fazer uma reforma política digna do nome, sugiro que seja criado oficialmente o cargo de bobo da corte presidencial.
Ele não precisa ter um gorro de guizos ou levar alegremente pontapés no traseiro. O seu ponto em comum com os bobos da corte medievais seria apenas o de dizer a verdade ao presidente da República.
Era para isso que serviam também esses abnegados servidores públicos na Idade Média e no começo da Era Moderna: dizer ao rei as verdades que os áulicos não tinham coragem (ou o interesse) de pronunciar. Se Michel Temer contasse com um bobo da corte, talvez percebesse o ridículo das suas declarações a respeito do encontro com Joesley Batista.
“Presidente, o senhor vai mesmo afirmar que recebe clandestinamente até intelectuais na garagem do Palácio do Jaburu, na calada da noite? Lorota, lorota, lorota!”, diria o bobo da corte, dando uma cambalhota (habilidades circenses permaneceriam essenciais para a função).
“O senhor vai mesmo afirmar que não imaginava que um empresário como Joesley Batista estava metido em esquemas de corrupção? Lorota, lorota, lorota!”, continuaria o bobo da corte, dando um salto mortal (talvez não seja uma má ideia o uso de um gorro de guizos nas piores crises).
Os bobos da corte teriam a obrigação de dizer a verdade ao presidente da República e de gravar tudo abertamente — com gravador profissional, ao contrário do usado por Joesley Batista, para não dar margem a laudos de peritos da Folha de S. Paulo. Uma vez porsemana, os registros do bobo da corte iriam ao ar em cadeia nacional.
Como escolher o bobo da corte? Por eleição, ora. Ele integraria a chapa dos candidatos ao Planalto e, durante a campanha, deveria ter absoluta liberdade para debochar de todas as mentiras que os seus companheiros contassem. O candidato a bobo da corte seria o grande diferencial para o eleitor fazer a sua escolha.
Em “Pantagruel”, François Rabelais escreveu: “Vocês sabem quantos príncipes, reis e repúblicas foram salvos, quantas batalhas vencidas, quantas situações de apuro foram solucionadas pelo conselho, opinião e profecia de bobos? Não preciso refrescar a vossa memória com exemplos. Aceitem o fato como incontestável”.
Aceitem o fato como incontestável, brasileiros. Precisamos de um bobo da corte presidencial.
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