“Pessoas morreram porque foram enganadas”, diz delegado da PF sobre Brumadinho
O delegado da Polícia Federal, Cristiano Campidelli, revelou que a mineradora Vale enganou os trabalhadores em simulações realizadas antes do trágico rompimento da barragem de Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019.
O delegado da Polícia Federal, Cristiano Campidelli, revelou que a mineradora Vale enganou os trabalhadores em simulações realizadas antes do trágico rompimento da barragem de Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019.
Segundo Campidelli, a empresa forneceu informações falsas aos funcionários. “Em uma simulação, ela conseguiu reunir 99% do seu corpo interno e 83% do corpo externo. Essas pessoas foram orientadas. Foi dito que se a sirene tocasse, elas poderiam caminhar calmamente até o ponto de encontro, por 8, 10, 15 minutos. Mas a Vale sabia que a sirene não funcionava e sabia que essas pessoas teriam menos de um minuto para se autossalvar. Então essas pessoas morreram porque elas foram enganadas. A Vale cometeu homicídios e tornou impossível a defesa das vítimas“, disse.
Campidelli também mencionou outras ações da Vale que contribuíram para a tragédia. Ele afirmou que a mineradora fez de tudo para causar a morte das pessoas em Brumadinho.
“A verdade é que a Vale fez muito esforço para matar essas pessoas em Brumadinho“, disse o delegado à Agência Brasil.
Campidelli foi convidado pelos familiares das vítimas para compartilhar informações sobre a investigação da PF, cujo relatório final ainda está sob sigilo. Ele falou durante um seminário realizado na Câmara Municipal de Brumadinho, como parte das atividades para lembrar o aniversário do rompimento da barragem, que completará 5 anos nesta quinta-feira, 25.
O que dizem os ex-funcionários?
Ex-funcionários da Vale confirmaram ter participado de uma simulação em 2018, onde lhes foi apresentada uma rota de fuga que demandaria de 10 a 15 minutos. Segundo a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum), os trabalhadores confiavam nos protocolos de segurança da mineradora.
O rompimento da barragem resultou no soterramento de 270 pessoas, a maioria delas trabalhadores da própria Vale ou de empresas terceirizadas que prestavam serviço na mina. A Avabrum contabiliza 272 vidas perdidas, incluindo dois bebês de mulheres grávidas.
Como andam as investigações?
O caso é investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais, que apresentou uma denúncia ao Ministério Público em 2020. São 16 réus, sendo 11 ligados à Vale e cinco à empresa alemã Tüv Süd, responsável pela declaração de estabilidade da barragem. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a federalização do processo.
As investigações da PF foram concluídas em novembro de 2021, resultando no indiciamento de 19 pessoas. O relatório final do inquérito foi enviado ao Ministério Público Federal (MPF), que irá analisar se apresentará uma denúncia com base nele.
A denúncia do Ministério Público de Minas Gerais aponta que houve conluio entre a Vale e a Tüv Süd para emitir declarações falsas de estabilidade da barragem. Segundo Campidelli, a barragem já estava em condições críticas e apresentava um fator de segurança abaixo do mínimo exigido. A Tüv Süd assinou a declaração de estabilidade mesmo sabendo dessas informações.
A falta de transparência no processo
O delegado também criticou a forma como a barragem foi auditada e destacou a falta de transparência no processo. Ele ressaltou a importância de uma seleção imparcial das empresas responsáveis pela auditoria.
A Fugro, empresa holandesa contratada pela Vale para realizar perfurações na barragem, foi apontada em um laudo da PF como possível causa do rompimento. No entanto, as investigações inocentaram a empresa, afirmando que ela não foi informada sobre os riscos da estrutura.
O relatório final do inquérito da PF será analisado pelo MPF, que decidirá se apresentará uma denúncia à Justiça. A Vale afirmou que colaborou desde o início das investigações e reiterou seu compromisso com a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem.
Com informações da Agência Brasil
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