Peritos comprovam assinatura falsa em laudo divulgado por Marçal
Oito assinaturas do médico José Roberto de Souza, que morreu há dois anos, foram obtidas de diferentes fontes
Relatório da Polícia Civil de São Paulo atestou a adulteração do laudo apresentado por Pablo Marçal (PRTB) para acusar Guilherme Boulos de uso de drogas.
Os peritos compararam oito assinaturas do médico José Roberto de Souza – que morreu há dois anos em decorrência de uma doença rara – de diferentes fontes obtidas pelos investigadores.
Segundo o documento, “É FALSA a imagem da assinatura em nome do médico ‘JOSÉ ROBERTO DE SOUZA’, lançada no receituário objeto de exame, descrito no capítulo ‘Peça de Exame’, posto que tal assinatura não apresenta as mesmas características gráficas dos exemplares observados nos documentos descritos no capítulo ‘Padrões de Confronto’”.
O relatório usou os seguintes documentos do médico para fazer a comparação com o laudo apresentado por Marçal: um pedido de passaporte, de junho de 1973, boletim de identificação na Polícia Federal, de dezembro de 1986, seis fichas do médico no Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), de maio de 1978, de novembro de 1981, de outubro de 1987, de agosto de 1992, de agosto de 2012 e de janeiro de 2015.
“Os padrões gráficos recebidos atendem aos critérios de autenticidade, adequabilidade, espontaneidade, contemporaneidade e quantidade, possibilitando as análises de confronto com os grafismos questionados”, dizem os peritos no relatório.
Justiça reconhece indícios de falsificação
A Justiça Eleitoral reconheceu indícios de falsificação no documento apresentado por Pablo Marçal, datado de 19/01/2021. Segundo o juiz Rodrigo Marzola Colombini, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, “há plausibilidade” nas alegações da campanha de Boulos que apontam a “falsidade do documento”. Ele cita ainda a “proximidade” do ex-coach com o dono da clínica responsável pelo laudo e o fato de o documento médico ter sido “assinado por profissional já falecido”.
Também aponta inconsistências no documento apresentado por Marçal, como o número errado do RG do candidato do PSOL. As inconsistências vão desde erros como a frase “por minha atendido” até a palavra “cocaína” escrita sem o acento.
“Aquela assinatura não é dele”
Uma ex-funcionária de José Roberto de Souza, médico responsável pelo laudo publicado por Pablo Marçal (PRTB), disse ao jornal O Globo não reconhecer a assinatura que consta no documento divulgado pelo candidato.
“Trabalhei 31 anos com o doutor José Roberto. Aquela assinatura não é dele. Ele sempre falava: ‘Faço a assinatura desse jeito porque nunca ninguém vai conseguir falsificar’. Quando vi aquela assinatura, isso veio na minha cabeça e decidi zelar pelo nome dele”, disse Iolanda Rodrigues.
Ela também enviou ao jornal imagens de um certificado de conclusão de um curso que fez no Instituto de Hematologia e Hemoterapia de Campinas (IHHC), avalizado pelo patrão. O médico José Roberto de Souza, cuja assinatura aparece no receituário usado por Marçal, ingressou no Conselho Regional de Medicina em São Paulo em 1972 e já faleceu.
Filha de médico rebate Marçal
A médica Aline Souza, filha do médico José Roberto de Souza, afirmou que seu pai nunca trabalhou na clínica que aparece no laudo divulgado por Pablo Marçal para acusar Boulos de uso de drogas.
O médico cuja assinatura aparece no receituário usado por Marçal já faleceu.
“Aconteceu uma coisa um tanto quanto absurda no meio dessas campanhas políticas. Não sei o por que e em qual contexto foi usado o nome e o CRM do meu pai pelo Pablo Marçal. A questão é muito grave, não sei até que ponto e por que usar a identidade de uma pessoa que nem está aqui”, afirmou Aline em vídeo divulgado neste sábado, 5.
“As coisas estão começando a ser apuradas. Mas quero esclarecer aqui que o meu pai jamais trabalhou nesta clínica que foi divulgada”, acrescentou.
Uma outra filha do médico, Carla Maria de Oliveira de Souza, disse ao Globo que a assinatura no documento apresentado pelo candidato do PRTB não era de seu pai.
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