‘Passando a boiada’ faz 1 ano
Há um ano, em 22 de abril de 2020, o presidente Jair Bolsonaro organizou a hoje famosa reunião ministerial sem pauta em que o ministro Ricardo Salles convidou os colegas a "ir passando a boiada", enquanto a imprensa só falava de Covid...
Há um ano, em 22 de abril de 2020, o presidente Jair Bolsonaro organizou a hoje famosa reunião ministerial sem pauta em que o ministro Ricardo Salles convidou os colegas a “ir passando a boiada”, enquanto a imprensa só falava de Covid.
Desde então, Sergio Moro, Nelson Teich, Abraham Weintraub e Ernesto Araújo deixaram os cargos, entre muitas outras mudanças. E hoje, aniversário da reunião, os líderes dos principais países do mundo apresentaram suas metas para combater as mudanças climáticas.
Bolsonaro anunciou hoje a antecipação da meta de neutralidade climática do Brasil de 2060 para 2050, o que não é nada demais. Confira algumas das principais ‘boiadas’ de um ano para cá.
1. A pedalada do carbono
Em dezembro de 2020, o Brasil apresentou à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) uma atualização da sua meta.
Foi essa mesma meta que Bolsonaro reiterou hoje: reduzir as emissões de gases de efeito estufa do Brasil em 43% até 2030, comparadas com os níveis de 2005.
Em números, a meta do governo Bolsonaro foi a mesma apresentada por Dilma em 2015, antes do Acordo de Paris.
Porém, o governo não atualizou a base de cálculo, o que na prática permite chegar a 2030 emitindo cerca de 400 milhões de toneladas de CO₂ a mais do que o prometido por Dilma.
O Observatório do Clima chamou essa jogada de Bolsonaro e Salles de ‘pedalada de carbono’.
2. Reduzir aumentando
Na semana passada, o vice-presidente Hamilton Mourão publicou um plano para a Amazônia que tem como meta deixar o desmatamento ‘apenas’ 15% maior do que quando Bolsonaro tomou posse.
A “intenção” do plano (em vez de “meta”) é reduzir até o fim de 2022 as queimadas e o desmatamento ilegal aos níveis médios registrados entre 2016 e 2020 pelo Prodes, sistema de monitoramento do Inpe com informações de satélites.
Como o desmatamento subiu muito em 2019 e 2020, primeira metade do governo Bolsonaro, a base de cálculo permite entregar em 2022 um desmatamento ‘reduzido’ que é na verdade maior do que a taxa recebida de Temer.
3. A farsa do boi bombeiro
No fim do ano passado, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina; o chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo Miranda; o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o próprio Bolsonaro ventilaram a lenda do ‘boi bombeiro’. O conceito é que a pecuária ajudaria a proteger o meio ambiente, ao menos no Pantanal.
Dados do próprio governo não sustentam essa conversa para boi dormir.
Os números da Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE mostram que o rebanho se manteve praticamente estável de 2003 a 2018, com até um certo crescimento nos últimos anos. Já o número de focos de calor no Pantanal registrados pelo Inpe variou muito ao longo desse período.
O IBGE e o Inpe, não custa lembrar, são do governo federal.
4. Paralisação do Fundo Amazônia
O governo gosta de pedir dinheiro estrangeiro em troca da proteção do meio ambiente. Acontece que esse dinheiro já existe: está no Fundo Amazônia. Em 2019, Salles declarou que o Fundo estava suspenso.
Em entrevista a O Antagonista, Suely Araújo, ex-presidente do Ibama, declarou: “Nós temos R$ 2,9 bilhões no Fundo Amazônia sem uso, específicos para o controle do desmatamento da Amazônia. Esse dinheiro está parado desde janeiro de 2019. Quer dizer, se eles tivessem realmente alguma intenção de controlar o desmatamento, eles não teriam causado a paralisação do Fundo Amazônia”. A questão foi parar no STF.
Hoje, dois anos depois da paralisação, Salles disse que o retorno das atividades do Fundo depende da Noruega, o principal doador.
5. A exoneração de Saraiva
Na reunião de 22 de abril de 2020, Bolsonaro mostrou que queria mais controle sobre a Polícia Federal.
Na quarta da semana passada (14), o superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, encaminhou notícia-crime ao STF contra Ricardo Salles e o senador Telmário Mota (Pros-RR). No dia seguinte, o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, anunciou a exoneração de Saraiva.
Salles travou uma disputa pública com Saraiva sobre a maior apreensão de madeira já feita no Brasil.
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