Páscoa aloprada
Em 2006, quase toda a imprensa se dedicou a isolar Lula de seus aloprados.Mario Sabino foi o único indiciado no caso (releia aqui).E eu, Diogo, continuei pateticamente a apontar o dedo para o comandante máximo da ORCRIM...
Em 2006, quase toda a imprensa se dedicou a isolar Lula de seus aloprados.
Mario Sabino foi o único indiciado no caso (releia aqui).
E eu, Diogo, continuei pateticamente a apontar o dedo para o comandante máximo da ORCRIM.
A descoberta de que a propina usada pelos aloprados para comprar o dossier Vedoin foi paga pela Odebrecht alegrou ainda mais a nossa Páscoa.
Se tiver tempo – muito tempo – releia uma coluna que publiquei na Veja, em outubro de 2006:
“O procurador-geral da República denunciou quarenta mensaleiros. O mais perto que ele chegou de Lula foi o 4º andar do Palácio do Planalto, ocupado por José Dirceu e seu bando. Agora ele terá de descer um lance de escadas e entrar diretamente no gabinete presidencial. Acompanhe-me, por favor. Cuidado com o degrau. Esta é a sala que pertencia a Freud Godoy, gorila particular de Lula. E aquela é a porta do escritório do presidente. Cerca de dez passos. Toc-toc-toc. Tem alguém aí? Lula saiu? A gente volta mais tarde.
Na última terça-feira, Garganta Profunda me passou os dados de um documento bancário de Freud Godoy, encaminhado pelo Coaf à Polícia Federal. Em 24 de março de 2004, ele depositou 150 000 reais na conta da empresa de sua mulher, Caso Sistemas de Segurança. Importante: 150 000 reais em moeda sonante. No documento bancário, Freud Godoy declarou que o dinheiro era fruto de “serviços prestados a clientes”. Isso contradiz tudo o que ele alegou até agora. Num primeiro momento, disse que sacou os 150 000 reais para comprar equipamentos. Depois, informou que pediu um empréstimo a um amigo. Mentira. Não foi saque nem empréstimo: foi um depósito. O fato é que ninguém sabe de onde saiu tanto dinheiro e por que foi parar na conta do gorila particular de Lula.
Como Robert Redford em Todos os Homens do Presidente, arregacei as mangas da camisa e fui procurar respostas na capital federal. Pedi à CPI dos Correios para fazer o cruzamento dos dados do valerioduto com o depósito de Freud Godoy. Encontrei uma espantosa coincidência. Em 23 de março de 2004, um dia antes de Freud Godoy depositar 150 000 reais na conta de sua mulher, foram sacados 150 000 reais da conta da SMPB, de Marcos Valério, no Banco Rural. Tudo em moeda sonante. Tudo de origem desconhecida. O saque no Banco Rural foi feito pelo policial aposentado Áureo Marcato. Que voltou ao banco dois dias depois e sacou mais 150 000 reais. Onde foram parar?
Na época do depósito, Freud Godoy era assessor direto de Lula. Mas fazia um bico para o PT, montando o esquema de segurança de Delúbio Soares, que transportava malas de dinheiro sujo de um lado para o outro. Freud Godoy alugou para ele um carro blindado, comprou duas motocicletas para seus batedores e contratou uma escolta de seis policiais militares. Os 150.000 reais depositados na conta de sua mulher podem ter sido o pagamento pelo serviço. Os policiais contratados para escoltar o tesoureiro do PT contaram a VEJA que Freud Godoy, entre outras coisas, era encarregado de organizar os encontros secretos entre Lula e Delúbio Soares. Pode-se imaginar o que eles discutiam.
Lula está praticamente reeleito. Os brasileiros o perdoaram. Mas a bandidagem da qual ele se cercou continuará a rondá-lo para sempre. É assim que será recordado. Por mais que tente se esconder, Lula é o PT. Lula é Delúbio Soares. Lula é Marcos Valério. Lula é o golpismo do mensalão e do dossiê Vedoin. Abra a porta, Lula. Toc-toc-toc.”
Se tiver tempo – ainda mais tempo – releia um post que publiquei em O Antagonista, em fevereiro de 2015:
“Eu, Diogo, conto um episódio antigo (tenha paciência, por favor), mas acrescento um fato inédito que revela a promiscuidade entre a verba de publicidade da Petrobras e uma parcela da imprensa.
Em primeiro lugar, o episódio antigo, uma coluna que publiquei na Veja em setembro de 2006, em pleno escândalo dos aloprados:
“Fim de agosto. Base aérea de Congonhas. Lula se encontra com Domingo Alzugaray, dono da IstoÉ. O encontro está fora da agenda presidencial. Alzugaray se lamenta dos problemas financeiros da revista. Lula pergunta como pode ajudá-lo. Alzugaray sugere o pagamento imediato de uma série de encartes encomendados pela Petrobras. Valor total: 13 milhões de reais. Lula promete se interessar pelo assunto. Duas semanas depois, a IstoÉ publica a matéria de capa com os Vedoin, incriminando os opositores de Lula. Quem relatou o encontro confidencial entre Lula e Alzugaray foi o editor da sucursal brasiliense da IstoÉ, Mino Pedrosa. E quem o relatou a mim foi o PFL. Creio que seja verdade. Creio em tudo o que contam de ruim a respeito de Lula. O que posso garantir é que a imprensa lulista funciona assim mesmo. O presidente manda. O jornalista publica. O contribuinte paga.”
Agora conto o fato inédito, que só me foi repassado sete anos mais tarde.
Durante a Operação Monte Carlo, a PF apreendeu um vídeo realizado por um araponga dois dias depois da publicação daquele meu artigo. Nele, o jornalista da IstoÉ, Mino Pedrosa, comentava minha coluna e confirmava o encontro entre Lula e o dono da revista.
Cito o relatório da PF:
“MINO mostra-se preocupado com seu futuro na ISTOÉ em função de um texto publicado na VEJA por DIOGO MAINARDI sobre um encontro entre o dono da ISTOÉ e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Este encontro teria sido viabilizado por MINO, segundo ele próprio confidencia”.
Dois meses depois do encontro entre Lula e o dono da IstoÉ, a CPI dos Sanguessugas revelou que o chefe dos aloprados, Hamilton Lacerda, trocara dezenas de telefonemas com o diretor de Marketing da Petrobras, Wilson Santarosa.
Na época, escrevi o seguinte:
‘Analisando os telefonemas de Hamilton Lacerda, descobri que ele recebeu também chamadas do celular de Dudu Godoy. Dudu Godoy é um dos sócios da Quê, agência de propaganda que atende a Petrobras. Ele foi um dos marqueteiros da campanha de Lula, em 1998, e fez carreira em Campinas, assim como Wilson Santarosa, que presidiu o sindicato dos petroleiros local. De maio a setembro de 2006, a IstoÉ veiculou 58 páginas de anúncios da Petrobras. Pelos dados do Ibope Monitor, foram 2,6 milhões de reais investidos pela estatal na revista. Carta Capital lucrou ainda mais, proporcionalmente à sua tiragem. Foram 789.000 reais’.”
Se você chegou até aqui, peço desculpas. Não tenho o menor interesse em me vangloriar por artigos escritos quase dez anos atrás. Só quero dar essa pista aos investigadores da Lava Jato, que leem regularmente O Antagonista.
Bom domingo para você e para eles também.
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