Osmar Terra, o ministro paralelo
Depois de um 2020 de previsões absurdas, Osmar Terra não desistiu em 2021. Ao longo do ano, o deputado continuou a menosprezar a pandemia de Covid com suas projeções baseadas em pseudociência. Em janeiro, o Brasil assistiu ao colapso no sistema de saúde do Amazonas...
Depois de um 2020 de previsões absurdas, Osmar Terra não desistiu em 2021. Ao longo do ano, o deputado continuou a menosprezar a pandemia de Covid com suas projeções baseadas em pseudociência.
Em janeiro, o Brasil assistiu ao colapso no sistema de saúde do Amazonas, que provocou a morte de dezenas de pessoas asfixiadas, por falta de oxigênio. Semanas antes, Terra foi um dos defensores da abertura do comércio no estado. Ele alegou que Manaus estava desenvolvendo imunidade de rebanho natural.
“Embora noticiário alarmista, Manaus tem queda importante de óbitos desde julho, mostrando uma imunidade coletiva (de rebanho) em formação e se manteve assim até o último dia do ano. As escolas reabriram ainda em setembro e não houve alteração da curva de óbitos como mostra gráfico”, escreveu Terra no Twitter.
Em maio, diante do avanço na vacinação contra a Covid e a redução substancial no número de mortes, o deputado ainda insistia na tese da imunidade de rebanho natural. Segundo ele, quem contrai o coronavírus não precisaria se vacinar.
“Aqui não estou negando a importância da vacina. Ela é muito importante. Estou só mostrando publicações que demonstram que quem teve a Covid também desenvolve imunidade duradoura.”
As investigações da CPI da Covid apontaram a existência de um “Ministério da Saúde paralelo”, que aconselhava Jair Bolsonaro em seu negacionismo. O grupo era composto, sobretudo, por médicos favoráveis ao tratamento precoce e que questionavam a eficácia da imunização.
Nesse contexto, o site Metrópoles divulgou um vídeo de uma suposta reunião do “gabinete paralelo”. Na gravação, Osmar Terra aparece ao lado do presidente Jair Bolsonaro, com vários médicos sentados numa plateia. No comando do evento, ele chamava os médicos um a um, para falar aos demais. O virologista Paolo Zanoto, por exemplo, afirmou que as vacinas contra a Covid não deveriam ser aplicadas, porque não houve tempo hábil para que elas fossem testadas.
A repercussão do vídeo fez com que Osmar Terra fosse convocado a depor à CPI. Em seu depoimento, o deputado mentiu diversas vezes e tentou negar seu negacionismo.
Terra admitiu que errou em suas previsões absurdas, como a de que a pandemia mataria menos de 800 pessoas no Brasil. Ele disse que a projeção foi baseada em números da época.
O deputado negou a existência de um “Ministério da Saúde paralelo”, reconhecendo apenas que participou de “reuniões esporádicas” com Jair Bolsonaro.
Mesmo após seu depoimento à CPI, Terra não deixou de frequentar o Ministério da Saúde. Em julho, por exemplo, o parlamentar teve um encontro com Marcelo Queiroga.
O negacionismo de Osmar Terra atingiu até os problemas gástricos de Bolsonaro.
Durante algumas semanas, o presidente teve uma crise de soluços interminável. Ele questionou Terra sobre o que poderia ser. O deputado minimizou o problema e disse que, em 99,9% dos casos, “não era nada”.
Em 14 de julho, Bolsonaro precisou ser internado com fortes dores abdominais. Estava com uma aderência intestinal, que havia causado a obstrução. Chegou-se a cogitar a possibilidade de que ele fosse operado.
À medida que as investigações da CPI avançaram sobre escândalos de corrupção ligados à compra de vacinas contra Covid, Osmar Terra foi sendo deixado de lado pelos senadores nos meses subsequentes.
Em outubro, Renan Calheiros, em seu relatório final, pediu o indiciamento do deputado por epidemia culposa com resultado morte e incitação ao crime. Segundo o senador, Osmar Terra “foi uma espécie do porta-voz do negacionismo”.
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