Os planos do governo para conter endividamento com bets
Lula e Haddad discutem ações para barrar sites de apostas irregulares e propor alternativas para reduzir os impactos do vício em jogos
O presidente Lula (foto à esquerda) afirmou, nesta quinta-feira, 3, que o crescente endividamento provocado pelas apostas esportivas online, conhecidas como bets, precisa ser tratado como uma questão de saúde pública, devido ao caráter de vício que esse tipo de prática gera entre os apostadores.
Durante uma reunião ministerial, Lula destacou a gravidade do problema e defendeu medidas urgentes para proteger a população, registrou reportagem da Folha de S. Paulo.
“O que estamos vendo é muita gente se endividando, gastando o que não tem, e isso precisa ser tratado como dependência. As pessoas estão viciadas”, declarou o presidente no início da reunião.
Previsão de bloqueio de sites ilegais
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (foto à direita), aproveitou o encontro para apresentar o plano de derrubada de até 2.000 sites de apostas irregulares que operam no Brasil sem autorização.
A ação, que será executada com o apoio da Anatel, faz parte da regulamentação do setor, que já está em curso. A previsão inicial, apresentada pelo ministro na segunda-feira (30), indicava que entre 500 e 600 sites seriam derrubados, mas o número de portais ilegais, a maioria operada por empresas estrangeiras, é muito maior do que se esperava.
Os bloqueios deverão começar no próximo dia 11, e os sites irregulares serão inacessíveis para qualquer cidadão que se encontre em território brasileiro. “Nos próximos dias, 2.000 sites de apostas sairão do ar, tornando-se inacessíveis no Brasil”, afirmou Haddad durante a reunião.
Impacto nas populações mais vulneráveis
Lula demonstrou grande preocupação ao tomar conhecimento do impacto das apostas esportivas nas finanças da população mais vulnerável. Um levantamento do Banco Central revelou que apenas no mês de agosto, beneficiários do programa Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas esportivas, muitas vezes utilizando o Pix como forma de pagamento.
Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social, também participou da reunião e afirmou que Lula solicitou ações imediatas para conter o avanço desse problema.
Entre as propostas discutidas está a possibilidade de impedir que o cartão do Bolsa Família seja utilizado para realizar apostas. O cartão, que atualmente permite a realização de compras no débito e saques do benefício, poderia ser bloqueado para esse tipo de transação.
Novas medidas de controle
O ministro Haddad destacou que o monitoramento dos apostadores será feito por meio do CPF, conforme previsto na regulação do setor. Isso permitirá identificar apostadores que estão demonstrando sinais de dependência.
“Será possível acompanhar cada CPF de quem está apostando, mantendo a confidencialidade, mas com um sistema de alerta para casos de possível vício em apostas“, explicou Haddad.
Outra proposta em análise é a utilização do CadÚnico, sistema de cadastro dos beneficiários de programas sociais, para controlar os gastos com apostas. A ideia seria suspender o CPF de quem estiver apostando grandes quantias ou até mesmo transferir a titularidade do benefício para outra pessoa da família, evitando que o recurso seja desviado para o vício em jogos.
Embora o foco das discussões esteja voltado para os beneficiários de programas sociais, há uma ala dentro do governo que defende uma regulação mais ampla, que abranja toda a população. O objetivo seria reduzir os efeitos nocivos do vício em jogos de azar de maneira geral, não apenas entre as classes mais baixas.
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