Os erros de Sergio Moro
Na terça-feira da semana passada, em entrevista a Claudio Dantas, no programa Papo Antagonista, Sergio Moro (foto) disse que apoiaria Luciano Bivar (na foto, ao lado de Moro) para a presidência da República, no caso de o cacique da União Brasil ser candidato ao Planalto. Sergio Moro tem o direito de apoiar quem ele quiser, assim como também o de decepcionar os seus eleitores. Como defendi muito o ex-juiz da Lava Jato -- repito que nunca assisti a tamanha perseguição contra um cidadão honesto, como a de que ele é vítima --, estou em boa posição também para criticá-lo. A verdade é que, como político, Sergio Moro é um ótimo ex-juiz...
Na terça-feira da semana passada, em entrevista a Claudio Dantas, no programa Papo Antagonista, Sergio Moro (foto) disse que apoiaria Luciano Bivar (na foto, ao lado de Moro) para a presidência da República, no caso de o cacique da União Brasil ser candidato ao Planalto. Sergio Moro tem o direito de apoiar quem ele quiser, assim como também o de decepcionar os seus eleitores.
Como defendi muito o ex-juiz da Lava Jato — repito que nunca assisti a tamanha perseguição contra um cidadão honesto, como a de que ele é vítima –, estou em boa posição também para criticá-lo. A verdade é que, como político, Sergio Moro é um ótimo ex-juiz. E eu nem vou falar muito sobre o erro que ele cometeu ao demorar demais para sair do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública de Jair Bolsonaro, visto que o atual presidente, desde o primeiro dia do seu mandato, mostrou-se resolvido a fazer o diabo para defender o filho mais velho, Flávio Bolsonaro, no caso das rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro — objetivo plenamente atingido ontem, com o arquivamento da denúncia pelo Ministério Público fluminense, depois que as decisões do juiz do caso e as provas contra o moço e os seus parceiros foram anuladas por STJ e STF, respectivamente. A demora para cair fora propiciou ao inimigos da esquerda colar ainda mais a imagem de Sergio Moro à de Jair Bolsonaro — e aos inimigos da direita de lhe aplicar com mais força o epíteto de “traidor”.
O adjetivo voltou a ser usado por integrantes do Podemos, ao serem surpreendidos por Sergio Moro com o anúncio da sua desfiliação do partido, onde permaneceu por apenas cinco meses. O ex-juiz descobriu que não teria os recursos necessários para bancar a sua campanha presidencial e também que não contava com a boa vontade dos integrantes do Podemos para lançar-se ao Senado. Mudou-se para a União Brasil, deixando um monte de gente “órfã” (para usar outra palavra usada pelos seus ex-companheiros de agremiação nos jornais), além de ressentida. Alguém precisava ter dito antes a Sergio Moro que, mesmo na política, campo onde há menos inimigos do que se imagina, o ressentimento é prato que muitos conservam na geladeira. Dois meses antes de sair do Podemos, Sergio Moro não ajudou a si próprio, ao relativizar o apoio de partidos políticos. Num evento promovido por um banco, ele afirmou: “Trouxemos o MBL para o Podemos e atraímos o apoio do Vem Pra Rua. A aglutinação da Terceira Via vai se dar entre um projeto e a sociedade civil. E isso está se dando em torno do meu projeto. O MBL tem uma comunidade enorme, uma comunidade jovem. Esses apoios muitas vezes são mais relevantes que os dos partidos políticos”.
Dirigentes do Podemos espalharam que a mudança de Sergio Moro para a União Brasil foi tanto mais espantosa porque ele próprio teria vetado a aliança entre os dois partidos uma semana antes de transferir-se para o segundo. Ainda que seja lorota, a mudança causou perplexidade geral, porque ocorreu sem nenhuma garantia de que o novo partido, cheio de dinheiro e tempo de televisão, lhe daria a candidatura presidencial ou ao Senado. Mais, ele adentrou um habitat que lhe é abertamente hostil ou, no máximo, amigavelmente hipócrita. Qual seria a imagem mais apropriada para definir Sergio Moro na mesma agremiação de ACM Neto, Luciano Bivar e Milton Leite? Talvez o de uma zebra no meio de leões.
Ele entrou na União Brasil pelas mãos de Luciano Bivar, que disse, sem ser desmentido, que não armou uma armadilha para Sergio Moro, não, ao atraí-lo para um partido que lhe negaria a candidatura presidencial. Luciano Bivar teria, inclusive, avisado o ex-juiz sobre o que seria uma incerteza não apenas presidencial, mas senatorial. Parece que, agora, Sergio Moro começa a vencer resistências internas ao seu plano B, o de se candidatar ao Senado por São Paulo.
A que preço? O de integrar-se à paisagem leonina, apoiando a candidatura de Luciano Bivar ao Palácio do Planalto, no caso de ela se concretizar. A chance de esse senhor ser eleito é nula. O líquido e certo é que, com a candidatura presidencial dele, a bufunfa do fundo eleitoral destinado à União Brasil poderá ser gasta até o último centavo, sem necessidade de ser devolvida aos cofres públicos, como prevê a legislação. Como Sergio Moro deveria ter aprendido quando era juiz, político nenhum gosta de rasgar dinheiro.
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