O Senado tem hoje a chance de limpar o país
Hoje ocorrerá no Senado a votação mais importante para o cotidiano dos brasileiros desde que a telefonia foi privatizada, na década de 1990, o que permitiu que dezenas de milhões de cidadãos pudessem adquirir telefones. Trata-se da votação do novo marco legal do saneamento. O Brasil ainda tem 30 milhões de pessoas sem água tratada e 104 milhões com esgoto a céu aberto. Sim, praticamente metade da população do país é desprovida de banheiro digno de tal nome...
Hoje ocorrerá no Senado a votação mais importante para o cotidiano dos brasileiros desde que a telefonia foi privatizada, na década de 1990, o que permitiu que dezenas de milhões de cidadãos pudessem adquirir telefones. Trata-se da votação do novo marco legal do saneamento.
O Brasil ainda tem mais de 30 milhões de pessoas sem água tratada e 104 milhões com esgoto a céu aberto. Sim, praticamente metade da população do país é desprovida de banheiro digno de tal nome. Para além da indignidade, o resultado disso é uma população obrigada a conviver com doenças causadas por vírus e bactérias que poderiam estar praticamente erradicadas e a morte de milhares de crianças pequenas por ano, vítimas de diarreia.
É um quadro literalmente medieval. A falta de saneamento básico mata pessoas, rios, a costa brasileira, emporcalha a paisagem e fere a autoestima de um país que se pretende civilizado. É uma vergonha pútrida.
Assim como no caso da telefonia, a culpa é de um estado monstruoso. Monstruoso em mais de um sentido. A maioria esmagadora das companhias de saneamento — 90% — é estatal, assim como ocorria com a telefonia. Cada unidade da federação conta com uma empresa inchada de ineficiência, que gasta mais com a folha de pagamentos do que com canalizações e tratamento de água e esgoto. É por isso mesmo que os políticos vêm relutando tanto em aprovar o novo marco legal do saneamento. Ele prevê que a iniciativa privada possa concorrer de verdade nessa área vital para a saúdes dos brasileiros e do meio ambiente. Com a concorrência, é inevitável que essas estatais encolham — e, se tudo der certo, é possível que até desapareçam. Com a concorrência, haverá muito mais investimentos (inclusive porque o estado não tem dinheiro suficiente) e certamente o saneamento básico se tornará universal. Seria uma bênção para o Brasil, mas um desastre para quem mantém essas companhias estatais como armários cheios de cabides de empregos para apaniguados. Para essa gente, não importa se milhões de brasileiros adoecem ou morrem, contanto que os seus amigos, familiares e cúmplices de todos os tipos tenham um salário pago com dinheiro público.
A ausência de saneamento básico é, mais do que uma vergonha, um assassinato contínuo perpetrado por gente desonesta e fisiológica contra cidadãos obrigados a viver na sujeira mais abjeta e sofrer com as consequências funestas da falta de água limpa e banheiros como devem ser. Essa situação intolerável ficou ainda mais evidente com a pandemia. Como é possível proteger-se da Covid-19 quando se adoece e morre porque não se tem água e esgoto tratados?
Os senadores têm hoje a chance de limpar o Brasil. Que o texto do novo marco legal seja aprovado por eles, sem que precise voltar à Câmara, porque o país não suporta mais tanta porcaria.
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