O que une e o que separa Arthur Lira de Baleia Rossi
Arthur Lira (Progressistas) e Baleia Rossi (MDB) polarizam a disputa pela presidência da Câmara, em uma eleição que será especialmente marcada pelas traições dos dois lados. Numericamente, em tese, pelos apoios públicos de partidos, Baleia leva vantagem, mas a disputa pelos votos está sendo feita individualmente e são vários os partidos, como já noticiamos, que vão rachados para o pleito de 1º de fevereiro...
Arthur Lira (Progressistas) e Baleia Rossi (MDB) polarizam a disputa pela presidência da Câmara, em uma eleição que será especialmente marcada pelas traições dos dois lados.
Numericamente, em tese, pelos apoios públicos de partidos, Baleia leva vantagem, mas a disputa pelos votos está sendo feita individualmente e são vários os partidos, como já noticiamos, que vão rachados para o pleito de 1º de fevereiro.
Lira fala em “alternância de poder” e promete, por exemplo, “proporcionalidade, respeito às decisões da maioria e soberania do plenário”. Baleia, o candidato do grupo de Rodrigo Maia, fala em “independência da Câmara” e explora a pecha de bolsonarista que Lira fez questão de puxar para si ao se aproximar de Jair Bolsonaro, em meio à pandemia da Covid-19 – gravando vídeo e tirando selfie ao lado do presidente.
Se Lira pode ser considerado o mais bolsonarista dos dois, Baleia é sem dúvida mais governista – sim, são coisas diferentes. Como já mostramos, ele votou mais vezes a favor das pautas governistas do que seu adversário.
Lira seria do ‘Centrão raiz’, enquanto Baleia estaria mais para um ‘Centrão gourmet’.
Existe alguma diferença na prática? Parlamentares de ambos os lados admitiram a O Antagonista, em reservado, que há muito pouca diferença ou quase nada. Por isso, Bolsonaro, a pedido de Michel Temer, passou a reconsiderar sua posição e começa a fazer gestos ao grupo de Baleia.
Bom lembrar que Baleia é presidente nacional do MDB, partido que tem dois líderes do governo Bolsonaro — no Congresso, Eduardo Gomes, e no Senado, Fernando Bezerra Coelho — e até pouco tempo atrás tinha um de seus deputados, Osmar Terra, no Ministério da Cidadania, sem contar com outros tantos cargos ocupados por indicados da sigla em órgãos federais país afora.
Na pauta econômica — que era para ser um dos pilares do governo Bolsonaro –, Lira ou Baleia, muito provavelmente, não devem criar resistências ao Planalto.
Estão cientes de que o país precisa avançar na pauta de reformas, embora privatizações sejam ainda um tabu para ambos os lados – reduzir a máquina nunca será conveniente para quem vive de ocupá-la. O mesmo raciocínio vale para a reforma administrativa.
Sobre a reforma tributária, Baleia defenderia a sua proposta, claro, que já está em tramitação na Câmara. Lira, por sua vez, não gosta da proposta de Baleia e faria uma discussão mais ampla antes de decidir por algum modelo.
A respeito da pauta de costumes — como Escola Sem Partido, armas, voto impresso –, o Planalto tem a expectativa de que Lira possa ser mais sensível, mas os próprios aliados do deputado de Alagoas confessam que dificilmente esses assuntos serão pautados enquanto o país estiver combatendo a pandemia.
Sobre um possível impeachment de Bolsonaro — atribuição exclusiva do presidente da Câmara –, os deputados ouvidos por O Antagonista lembraram que a popularidade de Bolsonaro “está alta” e os dois grupos que disputam o comando da Casa são da base do governo, o que, em tese, afastaria essa hipótese — não sem antes extrair tudo o que for possível do governo: ou alguém acha que a nova amizade de Ciro Nogueira, do mesmo Progressistas de Arthur Lira, com Bolsonaro é desinteressada?
Num cenário de queda da popularidade, porém, Baleia teria mais liberdade para pautar um processo de impeachment, pois não tem nenhuma investigação na gaveta de Augusto Aras. Lira, réu por corrupção no STF, sempre correria o risco de repetir o script de Eduardo Cunha.
Uma coisa está clara desde o início das conversas: tanto Baleia como Lira garantem avançar no desmantelamento do sistema de combate à corrupção no país, engavetando de vez a PEC da segunda instância e o fim do foro privilegiado, aprovando blindagem de advogados – entre outros absurdos.
No fim das contas, aliados de ambos acreditam que a decisão do voto, daqui a menos de 30 dias, será estritamente pessoal, levando em conta até mesmo o “humor” e a relação de amizade ou não de cada um dos 513 deputados com os dois candidatos.
O que esses eleitores querem é basicamente garantia de espaço na Casa e uma “repartição justa” de relatorias de projetos importantes. Diante disso, aconteça o que acontecer, é certíssimo que o Centrão vai ganhar. De novo.
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