O que está acontecendo na Fiocruz?
Principal (e até há pouco tempo única) aposta do governo de Jair Bolsonaro para imunizar a população contra a Covid, a produção da vacina da AstraZeneca/Oxford pela Fiocruz vem sofrendo sucessivos atrasos e alterando o cronograma oficial do programa nacional de imunização (PNI)...
Principal (e até há pouco tempo única) aposta do governo de Jair Bolsonaro para imunizar a população contra a Covid, a produção da vacina da AstraZeneca/Oxford pela Fiocruz vem sofrendo sucessivos atrasos e alterando o cronograma oficial do programa nacional de imunização (PNI).
No fim de fevereiro, por exemplo, a Fiocruz anunciou a entrega de 15 milhões de doses em março. Março passou e a BioManguinhos só conseguiu envasar e distribuir 3,8 milhões, cerca de um quarto do previsto originalmente.
Até agora, não surgiram explicações convincentes sobre o que está acontecendo na Fiocruz. Sem transparência, acumulam-se especulações.
O ministro Marcelo Queiroga faria um favor à sociedade se esclarecesse a questão amanhã pela manhã, em coletiva marcada, ou à tarde, na audiência que será realizada pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara.
“É inadmissível o governo fazer um planejamento e não cumprir. É muito grave essa situação”, disse a O Antagonista o deputado Elias Vaz (PSB-GO), um dos autores do requerimento para ouvir Queiroga.
“Vamos questionar o ministro quando o governo vai obedecer, seguir à risca, o seu próprio planejamento. Não dá para fazer um planejamento e logo na frente reduzir a quantidade de vacinas previstas. Isso significa mais mortes que vão acontecer em função dos atrasos dessas vacinas”.
Procurada por O Antagonista, a Fiocruz garantiu que “as entregas ao Ministério da Saúde somarão 100,4 milhões até o final de julho”.
Ainda segundo a Fiocruz, 11 milhões de doses estão hoje em processo de controle de qualidade, etapa que dura cerca de 20 dias e que “é necessária para garantir a oferta à população de um produto seguro e eficaz”.
“Perdas de doses por conta de alguns defeitos podem acontecer no envase, na rotulagem ou na própria embalagem. Vacinas envasadas com volume a menor, com presença de qualquer partícula, frascos com trincas, com problemas de fechamento, etc. são sempre descartadas na inspeção visual automática e/ou manual”, completou.
A instituição não informou quantas doses já foram descartadas, ou o papel desse fator nas mudanças dos cronogramas.
O Ministério da Saúde, por sua vez, disse estar “em constante contato” com a Fiocruz e que apoia a instituição “no que for necessário”, mas também não soube responder se Queiroga ou outra pessoa da pasta já enviou ofícios à Fiocruz questionando os atrasos.
Queiroga já fez duas visitas à Fiocruz: em 17 de março, ainda ao lado de Pazuello, no dia da primeira entrega de vacinas envasadas por lá; e na sexta passada (9). Nessa visita mais recente, ouviu da presidente da instituição, Nísia Trindade Lima, que “estamos caminhando com firmeza em nossos cronogramas”.
‘Verba volant’, diria Michel Temer.
O deputado federal Gilson Marques (NOVO-SC) enviou à Saúde, em 23 de março, ofício perguntando justamente por que a Fiocruz reduziu a entrega prevista e quais ações seriam tomadas para mitigar os atrasos.
“É preciso apurar urgentemente o que causa estas reduções na expectativa de produção para corrigir quaisquer problemas, com transparência e agilidade”, disse o deputado. O ministério tem até 10 de maio para responder.
Tabata Amaral (PDT-SP) também enviou requerimento semelhante nesta terça (13). “O Ministério da Saúde vem, reiteradas vezes, fazendo previsões de entrega de vacinas não cumpre com o que é divulgado, em especial no que tange aos lotes repassados pela Fiocruz. A sociedade necessita de esclarecimentos por parte da Fundação e do Ministério”, diz o texto.
Para Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde, a raiz do problema está no que chamou de “irresponsabilidade criminosa” do governo Bolsonaro em apostar em único fornecedor de vacinas.
Para ele, foi uma decisão de quem “desconhece o processo e de produção de vacinas”. O deputado também criticou a “passividade absurda” do governo federal em estabelecer relações com China, Índia e Coreia do Sul para buscar insumos.
E ainda há quem ache a CPI da Covid desncessária.
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