O que diz Cristiane Brasil no áudio de 2014
O áudio de Cristiane Brasil em 2014, obtido pelo Fantástico, é de uma reunião para a qual cerca de 50 servidores públicos e prestadores de serviço da Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida foram chamados. "Bom dia! Aqui não é uma reunião tensa. É apenas pra gente...
O áudio de Cristiane Brasil em 2014, obtido pelo Fantástico, é de uma reunião para a qual cerca de 50 servidores públicos e prestadores de serviço da Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida foram chamados.
“Bom dia! Aqui não é uma reunião tensa. É apenas pra gente situar vocês de coisas que não estão no dia a dia de vocês e que vocês precisam entender”, diz no começo da gravação a então secretária e vereadora licenciada, que buscava se eleger deputada federal pelo PTB.
Um perito confirmou que a voz é dela e que não há cortes ou edições.
Cristine cobra empenho da equipe para caçar votos e faz ameaças.
“Se eu perder a eleição de deputada federal… Eu preciso de 70 mil votos. Eu fiz quase 30 [mil votos]. Agora são 70 mil… No dia seguinte, eu perco a secretaria. No outro dia, vocês perdem o emprego. Só tem importância na política quem tem mandato. Só tem mandato quem tem voto. Só tem voto quem tem pessoas como vocês que estão na ponta ajudando a gente a pedir e propagar o voto. Do contrário, não funciona.”
O Fantástico entrevistou um homem – sem revelar sua identidade – que trabalhou na secretaria entre 2011 e 2014, na gestão de Cristiane, e que disse ter participado de reuniões como aquela.
Ele confirmou que se sentia pressionado “o tempo inteiro” a fazer campanha. “Não só eu, como todos os outros colegas.” O objetivo, segundo ele, “era convencer esse pessoal que tinha o benefício no projeto, que era o da terceira idade”.
No áudio, Cristiane dá dica de como abordar os eleitores.
“Eu preciso de uma coisa que está na mão de vocês agora, que é a credibilidade junto ao idoso. É a amizade que eles têm com vocês. É o carinho que eles têm com vocês no dia a dia. Se cada um, no âmbito familiar, me trouxer 30 fidelizados… “Pô, tu é minha mãe. Se tu não votar nela, eu perco o emprego. Olha que poder de convencimento essa frase tem! Pro marido: ‘Vai querer pagar minhas calcinhas? Então me ajude!'”
O Fantástico ouviu três pessoas que participaram da reunião. Elas não quiseram gravar entrevista, mas confirmaram a pressão de Cristiane por votos.
“Se amanhã vocês ficarem desempregados, como é que vai ser a vida de vocês?”, questiona ela na gravação. “Vai ficar um pouquinho mais complicado, não é?”
“Eu só tenho um jeito de eu manter o emprego de vocês. Me elegendo.”
Bruno Brandão, representante no Brasil da Transparência Internacional e especialista em gestão pública, disse ao Fantástico que “o assédio moral é evidente”.
“E além da questão eleitoral, tem também uma questão trabalhista. Você não pode trabalhar sob uma ameaça de que vai perder o emprego.”
Na mesma gravação, Cristiane ainda pede votos para o deputado estadual Marcus Vinícius, também do PTB. Em 2014, ele tentava se reeleger e estava na reunião.
“Com vocês, Marcus Vinícius”, anuncia ela.
“O que a gente pede hoje?”, começa Marcus. “Acho que a Cris já falou o que tinha que falar. Nós temos 2 mil funcionários. Se cada um de vocês conseguir 30 votos, 50 votos, já quase atingiu o objetivo. Vai chegar a 150 mil votos.”
Cristiane e Marcus foram eleitos em 2014. Ela, para a Câmara dos Deputados, com pouco mais de 80 mil votos. Ele, para a Assembleia Legislativa, com 39 mil votos.
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