O habeas corpus evangélico de Mangabeira para Bolsonaro
A história sobre como Bolsonaro, investigado por uma série de operações da Polícia Federal, ficou sem um habeas corpus preventivo impetrado por Mangabeira Unger
Professor da Universidade Harvard, Roberto Mangabeira Unger (foto) publicou uma longa carta, cheia de voltas, para dizer que cogitou apresentar um habeas corpus preventivo “a favor” do “adversário” Jair Bolsonaro. Ele mencionou Rui Barbosa como inspirador da ideia.
Na mensagem publicada em suas redes sociais, Mangabeira repete o que vem dizendo há anos (e disse inclusive a O Antagonista na entrevista em vídeo reproduzida abaixo): nem Lula nem Bolsonaro são solução para o Brasil.
“Se Lula foi mais cauteloso do que Bolsonaro em respeitar os padrões e as regras do Estado democrático de direito, tem sido também mais escancarado em abusar das práticas de cooptação”, diz a mensagem.
“Empoderamento do Judiciário“
Segundo o professor, a divisão do país entre Lula e Bolsonaro “coincidiu com o empoderamento de um Judiciário que aprendeu a fazer causa comum com a polícia sem levar em conta o efeito de suas investidas investigatórias sobre as instituições que asseguram nossa coesão”.
Na sequência, Mangabeira questiona: “O próximo alvo será o Congresso Nacional?”. E segue, dizendo que “nos países mais populosos do mundo, a maioria do povo continuar a ser pobre e desorganizada, mas seu horizonte de aspiração é pequeno burguês”.
Evangélicos
Para Mangabeira, o Brasil precisa de uma “contra-elite, de orientação produtivista e nacionalista” para avançar para além da dinâmica estabelecida entre Lula e Bolsonaro. E essa “multidão de emergentes e batalhadores (…) está predominantemente nos movimentos evangélicos”.
É aí que surge Bolsonaro, no raciocínio do professor.
“À luz desses conceitos, comecei nos últimos meses a conversar com lideranças políticas e religiosas dos emergentes e dos batalhadores, na esperança de, com elas, ajudar a abrir um caminho que, sem preocupação com os rótulos, possa unir nosso Brasil dividido em torno de um projeto produtivista e nacionalista”, relata.
“Essas conversas acabaram levando a dois diálogos com o ex-Presidente Bolsonaro que coincidiram com o período em que se discutiu seu possível envolvimento no preparo de um golpe de Estado. Apenas conheço o que apareceu nos jornais a esse respeito. As provas citadas me parecem frágeis, mas não era, e não é, minha tarefa avaliá-las”, segue.
“Injustiçado”
“Nessas conversas, o ex-Presidente se disse injustiçado. Eu lhe respondi que não era essa minha preocupação e que o que não quero é que o Brasil vire o Paquistão. A condenação e a prisão da maior liderança oposicionista só dificultariam a tarefa de unir o Brasil”, relata Mangabeira, chegando, enfim, a comentar os boatos que circulavam sobre um habeas corpus preventivo para Bolsonaro.
“Como todo jurista brasileiro, admirava a iniciativa de Rui Barbosa em impetrar habeas corpus preventivos a favor de alguns de seus adversários. Mas colegas e amigos que atuavam nessa área depois me mostraram que há jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que praticamente barra este caminho”, lamenta o professor.
“Com essa jurisprudência, nossa Suprema Corte impede os vivos de imitar o glorioso exemplo dos mortos, como se quisesse lembrar a nós, brasileiros contemporâneos, que nosso destino é o do apequenamento. Mais uma vez deu razão a meu tio-avô, João Mangabeira, quando ele disse que o poder judiciário foi o que mais faltou à República”, completa.
E foi assim que Bolsonaro, investigado por uma série de operações da Polícia Federal, ficou sem um habeas corpus preventivo impetrado por Mangabeira Unger.
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