O fracasso da vacina de Doria
Projeto da Butanvac enfrentou uma série de desafios técnicos, políticos e estratégicos que comprometeram seu sucesso
Após três anos de testes, o projeto da Butanvac, anunciado em 2021 pelo então governador de São Paulo, João Doria, como a grande esperança de autossuficiência vacinal do Brasil contra a Covid-19, foi encerrado.
Reportagem publicada neste sábado, 4, na Folha mostra que o imunizante, apresentado como uma vacina 100% nacional, enfrentou uma série de desafios técnicos, políticos e estratégicos que comprometeram seu sucesso.
Propagandeada pelo governo de São Paulo, a Butanvac prometia baixo custo, cerca de R$ 10 por dose, com produção baseada em ovos embrionados de galinha — tecnologia já dominada pelo Instituto Butantan para a vacina contra a gripe.
No entanto, a solução dependia do vírus da doença de Newcastle, desenvolvido por cientistas do Mount Sinai, em Nova York, em parceria com a PATH e a Fundação Bill e Melinda Gates.
O anúncio precipitado, que omitia a origem estrangeira, gerou atritos com os desenvolvedores da tecnologia e ameaçou acordos internacionais. Mesmo assim, o Butantan iniciou a produção de doses antes da conclusão dos estudos clínicos, apostando no sucesso rápido do imunizante.
Desafios técnicos
A vacina não conseguiu superar os desafios técnicos.
Testes da fase 2, concluídos em 2024, mostraram que a resposta imune era inferior à da Comirnaty (Pfizer), referência no combate à Covid-19.
Especialistas como o infectologista Sérgio Nishioka apontam que o cronograma irrealista e a falta de foco estratégico prejudicaram o projeto.
Além da Butanvac, versões da mesma plataforma foram aprovadas para uso emergencial no México e na Tailândia. Ainda assim, cada país adaptou a formulação, o que complicou o avanço do imunizante brasileiro.
Para Maurício Nogueira, virologista da Faculdade de Medicina de Rio Preto, o sucesso das vacinas de RNA, como a da Pfizer, tornou a Butanvac obsoleta.
“Elas apresentaram respostas imunológicas muito superiores e mais fáceis de atualizar contra novas variantes”, disse.
O Butantan, agora, aposta em novas tecnologias, incluindo uma fábrica de vacinas de RNA mensageiro prevista para 2027 e estudos para uma vacina contra a gripe aviária.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)