O fim do condomínio do Comando Vermelho na Maré
Força-tarefa no Rio de Janeiro combate especulação imobiliária promovida pelo Comando Vermelho na Zona Norte
Uma força-tarefa composta pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, em conjunto com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), iniciou nesta terça-feira, 13, uma operação no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, que tem como objetivo demolir 40 imóveis construídos ilegalmente pelo tráfico de drogas na comunidade do Parque União.
Essas construções, apelidadas de “condomínio”, foram denunciadas em outubro do ano passado pela TV Globo, que revelou a adoção de táticas típicas das milícias pelo Comando Vermelho (CV).
O grupo criminoso passou a utilizar a especulação imobiliária para lavar o dinheiro obtido por meio do tráfico de drogas. A venda dessas casas, ainda em fase de construção, serve para movimentar os lucros ilícitos da organização.
Imóveis do Comando Vermelho sob investigação
De acordo com informações fornecidas pelo Ministério Público, alguns desses imóveis chegam a ter até seis pavimentos, porém 90% deles ainda estão em construção e completamente desocupados. As construções foram erguidas sem qualquer autorização da prefeitura e não possuem acompanhamento técnico, o que torna as edificações ilegais e perigosas para os moradores e a comunidade ao redor.
Segundo reportagem do G1, além das demolições, a força-tarefa também tem a missão de cumprir 23 mandados de intimação, levando suspeitos à delegacia para prestar esclarecimentos. Esses mandados fazem parte de uma investigação aprofundada que revelou como o Comando Vermelho estava utilizando a construção de imóveis no Parque União para lavar os lucros de suas atividades criminosas.
Líder do tráfico de drogas
O controle da área é atribuído ao traficante Jorge Luís Moura Barbosa, conhecido como Alvarenga, um dos chefes do Comando Vermelho.
Alvarenga, que já acumula 86 registros criminais e é investigado em 175 inquéritos policiais, é uma figura central na tomada de decisões da facção. Ele está envolvido em atividades que vão desde a invasão de territórios rivais até a exploração ilegal da economia local, consolidando seu domínio sobre o tráfico de drogas e a especulação imobiliária na região.
A operação envolve diversas unidades policiais especializadas, como a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), o Comando de Operações Especiais da Polícia Militar (COE), além da Seop e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ). Essas equipes atuam de maneira coordenada para desmantelar as atividades criminosas e garantir a segurança da comunidade.
No mês anterior, a Associação de Moradores do Parque União também foi alvo de uma operação policial. A investigação conduzida pela DRE apontou que a associação e seus dirigentes atuavam como “laranjas” para o Comando Vermelho, facilitando as atividades criminosas na região.
Essa ação foi uma etapa importante no mapeamento das operações financeiras do grupo, evidenciando como o tráfico de drogas está profundamente enraizado nas estruturas sociais e econômicas do Complexo da Maré.
O condomínio do Comando Vermelho
Em abril, no coração da comunidade Parque União, na Avenida Brigadeiro Trompowski, um condomínio clandestino com aproximadamente 40 prédios e 300 apartamentos atraiu a atenção das autoridades. Sob suspeita de ter sido financiado com dinheiro do tráfico local, comandado pelo Comando Vermelho, o empreendimento Novo Horizonte tornou-se alvo de uma operação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).
Durante a operação, policiais descobriram que além das habitações, o complexo abrigava lojas, bares, uma fábrica de bolo e até um espaço para eventos comunitários. Segundo reportagem do O Globo, as investigações revelaram que os prédios, alguns com até cinco andares, foram construídos sem supervisão técnica adequada.
No local, funcionava também uma loja de materiais de construção, abastecendo as obras contínuas no condomínio. A DRE suspeita que o empreendimento começou a ser erguido em 2017, mas só recentemente a polícia tomou conhecimento de sua existência.
Detalhes do empreendimento
O terreno onde o condomínio está localizado possui cerca de 3.314 m² e é adjacente a uma quadra de futebol da comunidade. As construções seguem um padrão de cinco andares, com os primeiros andares destinados ao comércio e os superiores à moradia.
Embora muitas unidades ainda estejam em construção, vídeos e fotos indicam que alguns apartamentos já estavam ocupados, pintados de amarelo, com janelas de vidro temperado e acessos pelas lojas no térreo. O espaço comunitário era usado para shows e eventos de confraternização dos moradores.
O pagamento dos aluguéis e compras dos imóveis era feito em dinheiro, complicando o rastreamento financeiro. Na operação, a polícia apreendeu documentos e recibos de pagamento. Nove pessoas ligadas ao esquema imobiliário do tráfico foram identificadas e estão sob investigação, com seus nomes mantidos em sigilo
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)