O editorial do New York Times é um desastre
O editorial que o New York Times levou ao ar hoje sobre o caso de Glenn Greenwald é um desastre informativo desde a primeira linha...
O editorial que o New York Times levou ao ar hoje sobre o caso de Glenn Greenwald é um desastre informativo desde a primeira linha –e isso não é uma questão de ser simpático a Jair Bolsonaro ou ao PT: trata-se de erros factuais.
O texto começa falando na “denúncia do governo brasileiro contra o jornalista americano Glenn Greenwald”. Ora, o Ministério Público NÃO é “o governo brasileiro”: é um órgão independente do Executivo, ainda que o chefe da PGR (hoje, Augusto Aras) seja escolhido pelo presidente. No Rio de Janeiro, por exemplo, o MP está investigando o filho de Bolsonaro, e o Brasil tem um considerável histórico de denúncias contra presidentes feitas pelos PGRs.
Talvez o conselho editorial do jornal tenha pensado na figura do “attorney general”, que nos EUA é uma espécie de misto de ministro da Justiça com procurador-geral da República (com algumas funções da AGU). Mas poderiam ter checado com o correspondente no Brasil, em vez de presumir que as instituições americanas sejam consenso nas democracias do Ocidente.
Mais à frente, o texto do NYT diz o seguinte:
“A prisão de Lula [por Sergio Moro] eliminou [o petista] da disputa presidencial, abrindo caminho para a eleição de Bolsonaro –que então nomeou Moro como seu ministro da Justiça. Agora, além desse conflito de interesse implícito, as mensagens hackeadas sugeriam que Moro havia violado a lei brasileira, segundo a qual os juízes deveriam ser neutros, para ajudar Bolsonaro.”
Isso não é só comprar a narrativa petista: é factualmente incorreto. Moro condenou Lula à prisão no caso do triplex do Guarujá –decisão que ainda precisava ser confirmada pelo TRF-4 e só levou o petista à cadeia em abril de 2018 porque o entendimento do STF na época era diferente– em julho de 2017, quando pretensões presidenciais de Bolsonaro ainda eram tratadas como piada.
Três meses antes, em março de 2017, o então deputado havia sido ignorado pelo então juiz da Lava Jato depois de cumprimentá-lo no aeroporto de Brasília.
O conselho editorial do NYT se apresenta como “um grupo de jornalistas de opinião cujas opiniões são baseadas em experiência, pesquisa, debate e certos valores de longa data”. Pelo visto, decidiram dar férias a essa parte da “pesquisa”.
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