Jair Bolsonaro não divulgou o vídeo da reunião ministerial, mas acertou com a AGU uma espécie de ‘vazamento controlado’ de suas falas, para tentar impor a narrativa de que nunca interferiu na Polícia Federal.

O que consta da petição da AGU, porém, só corrobora um malabarismo inútil.

Bolsonaro diz que já tentou “trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente” e não conseguiu. “Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu.”

Embora use termos inadequados, o presidente está falando da Polícia Federal. Não foi o chefe da Abin no Rio que ele tentou trocar e não conseguiu, mas o superintendente da PF no Rio.

Bolsonaro sempre reclamou de “perseguição” do MP do Rio, da PF e da Civil. Nunca falou em problemas com a Abin.

Ao usar o termo “Eu não vou esperar f. minha família de sacanagem ou amigo meu”, ele está, claramente, se referindo às investigações que atormentam seus filhos, familiares e amigos – especialmente um: Fabrício Queiroz.

Na mesma frase, ele diz que se não puder trocar “alguém na ponta da linha”, vai “trocar o chefe” ou o “ministro” e ponto final.

O que Bolsonaro fez no dia seguinte? Trocou o chefe da Polícia Federal, não o da Abin. E ainda tentou ‘promover’ o chefe da Abin (Alexandre Ramagem) para o comando da PF, por ter mais “afinidade” com ele.

Em nota, publicada há pouco, Sergio Moro ressaltou que a AGU omitiu o contexto e partes importantes, inclusive o “trecho imediatamente precedente” à fala sobre a “segurança do RJ”.

É preciso reiterar que Bolsonaro sempre expôs publicamente sua insatisfação com a PF do Rio e nunca disse um ‘ai’ sobre problemas de segurança, sob coordenação da Abin. O Bolsonaro que todos conhecem em público desmente o que a AGU tenta emplacar.