Negacionistas do negacionismo
Os apoiadores de Jair Bolsonaro vão dedicar os próximos meses à tarefa de negar o negacionismo. Eles descobriram que o dano causado pela pandemia à imagem de seu antipresidente foi considerável, e por isso tentarão reescrever a história. O ministro da Casa Civil Ciro Nogueira inaugurou a estratégia nesta quarta-feira. Ele publicou um artigo sórdido, com frases como “aceita que dói menos”, argumentando que os erros do governo no combate à Covid foram merreca. Assim como é preciso refutar cada tentativa do PT de esconder o seu protagonismo no petrolão, não se pode ignorar nenhuma investida destinada a isentar Bolsonaro de seus desatinos na pandemia..
Os apoiadores de Jair Bolsonaro (foto) vão dedicar os próximos meses à tarefa de negar o negacionismo. Eles descobriram que o dano causado pela pandemia à imagem de seu antipresidente foi considerável, e por isso tentarão reescrever a história. O ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (foto) inaugurou a estratégia nesta quarta-feira. Ele publicou um artigo sórdido, com frases como “aceita que dói menos”, argumentando que os erros do governo no combate à Covid foram merreca.
Assim como é preciso refutar cada tentativa do PT de esconder o seu protagonismo no petrolão, não se pode ignorar nenhuma investida destinada a isentar Bolsonaro de seus desatinos na pandemia.
Nogueira celebra o fato de que o Brasil foi convidado pela OMS a redigir um tratado sobre a Covid junto com outros cinco países. Isso, por servir de “exemplo mundial de vacinação”. Seria a prova de que Bolsonaro fez o que era necessário.
O que o ministro omite é que o know how brasileiro em vacinação foi construído ao longo de décadas, sem contribuição nenhuma de Bolsonaro, que jamais pensou na questão em seus 27 anos de Congresso. Bolsonaro comprou vacinas porque não poderia escapar de comprá-las. Mas todas as suas escolhas foram no sentido de reduzir as compras (no caso do consórcio da OMS), atrasá-las (no caso das ofertas da Pfizer) e desencorajar a imunização (em todas as palavras que disse até hoje).
O artigo também sugere que, se Bolsonaro errou durante a pandemia, o mesmo aconteceu com a ciência. O argumento é asqueroso, mais que falacioso. Para começo de conversa, porque Bolsonaro errou na essência, naquilo que era fundamental: ele e seus conselheiros aloprados defenderam insistentemente o uso de remédios que não serviam para nada, em vez de estimular a vacinação desde o início, como recomendavam o consenso e o bom senso médicos.
Os dois exemplos de “erro” científico mencionados por Nogueira são um estudo britânico que superestimou o número de mortes no Brasil em 2020, caso não se adotasse o lockdown; e um estudo americano, que concluiu que medidas de isolamento social reduziram o número de mortes em “apenas” 0,2% ao redor do mundo.
A diferença entre os cientistas que preconizavam o isolamento social e Bolsonaro é que os primeiros queriam evitar mortes, diante de um cenário incerto, enquanto ele mostrava descaso com a vida alheia, traduzido naquele inesquecível “e daí?”.
Mas, se não bastasse isso, o ministro da Casa Civil é desonesto na leitura do estudo americano. Nogueira não menciona a recomendação política apresentada pelos pesquisadores da Universidade Johns Hopkins. Em momento nenhum eles afirmam que o isolamento diante de uma pandemia é desnecessário. Eles dizem, isso sim, que o isolamento compulsório não teve os efeitos desejados, e deveria se substituído por estratégias que incentivem mudanças voluntárias de comportamento.
“Deve ficar claro que um papel importante das autoridades governamentais é prover informações aos cidadãos, para que eles possam responder à pandemia de forma a mitigar sua exposição à doença”, diz o texto. Ele propõe que o governo faça aquilo que Bolsonaro não fez, ao lutar até mesmo contra o uso de máscaras.
Não dá para deixar o bolsonarismo falar à vontade. A mentira é um vírus que precisa de combate.
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