MPF suspeita que Furna da Onça vazou para ao menos três deputados do Rio
Muito antes da revelação, por Paulo Marinho, de que Flávio Bolsonaro teria sido informado com antecedência sobre a Furna da Onça, em 2018, o Ministério Público Federal já apontava que ao menos outros três deputados estaduais do Rio à época sabiam que a operação seria deflagrada. Ainda em novembro daquele ano, ao pedir a continuidade da prisão de vários investigados na operação, o MPF apontou evidências de vazamento em benefício de Paulo Melo (MDB), Coronel Jairo (SD) e Marcus Vinícius Neskau (PTB)...
Muito antes da revelação, por Paulo Marinho, de que Flávio Bolsonaro teria sido informado com antecedência sobre a Furna da Onça, em 2018, o Ministério Público Federal já apontava que ao menos outros três deputados estaduais do Rio à época sabiam que a operação seria deflagrada.
Ainda em novembro daquele ano, ao pedir a continuidade da prisão de vários investigados na operação, o MPF apontou evidências de vazamento em benefício de Paulo Melo (MDB), Coronel Jairo (SD) e Marcus Vinícius Neskau (PTB) e também de Affonso Monnerat (na época, chefe de gabinete do ex-secretário de governo estadual do Rio Wilson Carlos).
Oriunda da Lava Jato no Rio, a Furna da Onça foi um desdobramento da Cadeia Velha, esta deflagrada em 2017 para investigar o pagamento de mensalinhos a deputados estaduais, em troca de apoio aos governos de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.
Pistas do vazamento foram encontradas antes e no próprio dia da deflagração da Furna da Onça.
Durante as investigações, a Polícia Federal apreendeu na casa de Andreia Nascimento (ex-assessora de Paulo Melo) bilhetes enviados da cadeia pelo irmão dela, Fabio Nascimento (também ex-assessor do ex-deputado). Num deles, estava escrito:
“Vc precisa continuar conversando com amigo, outras operações vão surgir com continuação das investigações das empresas citadas. Vão tentar manter ele aqui com novos dados. Veja se estão agindo e fazer o que tem que ser feito.”
No mesmo papel, havia determinação para excluir mensagens eletrônicas de outros investigados — para o órgão, uma tentativa clara de destruição de provas e obstrução da Justiça.
Em relação a Coronel Jairo, o MPF registrou que, na busca e apreensão em sua residência, policiais encontraram apenas um computador, com todos os arquivos e histórico de navegação apagados. Descobriram ainda que o então deputado e sua filha saíram dos grupos de WhatsApp no dia anterior à operação.
Antes da chegada dos policiais, na madrugada de 8 de novembro, ele se internou em um hospital particular na Barra da Tijuca.
Ao autorizar a continuidade de sua prisão, o desembargador Abel Gomes disse que era “perfeitamente plausível” a hipótese de que, por ser oriundo da Polícia Militar, Coronel Jairo, tenha sido beneficiário de “algum esquema de ‘informação ilícita’, a respeito das ações policiais que eventualmente pudessem incidir sobre ele”.
Marcus Vinícius Neskau, por sua vez, foi colocado entre suspeitos de terem se beneficiado do vazamento porque, no dia da operação, não foram encontrados computadores em suas residências, no Rio de Janeiro e em Petrópolis, nem em seu gabinete na Alerj.
“Não é crível, na realidade de hoje, que em nenhum desses endereços tenha sido possível encontrar qualquer espécie de referência documental em aparelhos de informática de alguém que trabalha como Deputado Estadual”, observou o desembargador Abel Gomes ao renovar a prisão.
A última suspeita, na época, sobre o vazamento, recaiu sobre Affonso Monnerat, ex-chefe de gabinete do ex-secretário Wilson Carlos. No dia da operação, 8 de novembro, ele recebeu os policiais vestido socialmente e tendo nas mãos um envelope com seu diploma universitário, o que lhe daria direito a uma cela especial.
Em sua residência, não foram encontrados computadores nem documentos e suas conversas no WhatsApp estavam apagadas.
“Há indícios documentais e descrição de circunstâncias contextuais verificadas no cumprimento dos mandados de busca e apreensão e de prisões temporárias indicando que alguns dos investigados e pessoas a eles relacionados teriam conhecimento prévio das ações policiais, não só se ‘preparando’, mas atuando para o impedimento da arrecadação, alteração ou destruição de elementos de convicção”, registrou Abel Gomes em sua decisão.
No ano passado, a PF arquivou um inquérito sobre o vazamento sob o argumento de que não foram identificados os autores do crime.
O inquérito foi reaberto agora, depois que Paulo Marinho contou que assessores de Flávio Bolsonaro também foram avisados antecipadamente sobre a operação.
A defesa de Coronel Jairo afirmou que em razão da avançada idade, pouco usa computadores e que o afastamento do sigilo telemático não encontrou informação relevante em seus e-mails. Afirmou ainda que ele saiu do grupo de WhatsApp por divergências com seu gabinete por falta de esforço em sua reeleição. E que ele foi internado por problemas cardíacos que enfrenta há décadas, que levaram à sua aposentadoria por invalidez na PM.
“Jairo Souza Santos repudia as afirmações acerca do vazamento da operação em questão, ao menos no que lhe diz respeito, relacionadas a um fato ocorrido há 1 ano e meio e que, ao que se tem notícia, foi apurado pela Polícia Federal na época, sem qualquer resultado concreto”, diz nota assinada pela defesa do ex-deputado.
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