Morre Arthur Moreira Lima, o pianista que popularizou a música erudita
O artista transformou um caminhão em palco e percorreu o Brasil com sua música
O pianista Arthur Moreira Lima faleceu nesta quarta-feira, 30, em Florianópolis, aos 84 anos, vítima de um câncer no intestino.
Moreira Lima se transformou em um símbolo de disseminação da música clássica e popular, levando obras de Chopin, Ernesto Nazareth e Villa-Lobos a comunidades distantes dos grandes centros culturais.
A carreira de Arthur Moreira Lima se destacou por sua opção por caminhos menos convencionais. Após receber prêmios internacionais de prestígio – o segundo lugar no Concurso Chopin em 1965 e o terceiro no Tchaikovsky, em 1970 – ele poderia ter se consolidado nas principais salas de concerto do mundo. No entanto, escolheu o Brasil como seu palco principal.
Em um projeto ousado, adaptou um piano na carroceria de um caminhão e, com o projeto “Piano pela Estrada”, percorreu centenas de cidades, promovendo uma interação direta e acessível com o público. Em suas apresentações, Moreira Lima misturava repertório clássico e popular, de Chopin a Nazareth, e atraiu audiências que raramente teriam contato com esse universo musical.
Com uma formação sólida que começou com a professora Lúcia Branco – também mentora de Nelson Freire e Tom Jobim – e se aprofundou com mestres na Europa, como Margarite Long em Paris e Rudolf Kehrer em Moscou, Moreira Lima destacou-se como intérprete de compositores românticos e modernos.
Ele se destacou por um estilo eclético e despretensioso, algo que sempre marcou seu percurso artístico. “Ele nunca quis se comparar com outros pianistas de sua geração”, comentou em uma das poucas entrevistas que concedeu, preferindo que sua música falasse por si.
Moreira Lima também teve participação importante no renascimento do choro na década de 1970, aproximando a música erudita do gênero popular em um momento em que o rock dominava o cenário musical brasileiro. Além das gravações de Ernesto Nazareth, o pianista trouxe em sua bagagem parcerias com músicos populares e eruditos, incluindo composições do sofisticado Elomar e colaborações com Ney Matogrosso.
Apesar do talento reconhecido entre especialistas, Arthur Moreira Lima permaneceu como um “gênio solitário”, nas palavras de críticos, um artista que, embora respeitado, nunca buscou as luzes da fama. “Foi um fazedor de shows”, como se autodefinia, especialmente nos anos 1980, quando ampliou ainda mais sua conexão com o público brasileiro, levando a música clássica para a televisão e outras plataformas.
O velório de Arthur Moreira Lima será realizado no Cemitério do Jardim da Paz, em Florianópolis, nesta quinta-feira, 31, entre meio-dia e 16h.
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