Mestrado de Decotelli na FGV tem trechos idênticos a relatório da CVM, sem citar
A dissertação de mestrado que Carlos Alberto Decotelli apresentou à FGV em 2008 tem vários trechos idênticos aos de um relatório da CVM do mesmo ano. O relatório, porém, não foi citado por Decotelli nem sequer consta da bibliografia...
A dissertação de mestrado que Carlos Alberto Decotelli apresentou à FGV em 2008 tem vários trechos idênticos aos de um relatório da CVM do mesmo ano. O relatório, porém, não foi citado por Decotelli nem sequer consta da bibliografia.
O alerta foi dado no Twitter pelo professor Thomas Conti.
O parecer da CVM data de fevereiro de 2008. É sobre o Banrisul, objeto da dissertação de Decotelli, Banrisul: do Proes ao IPO Com Governança Corporativa. O texto está disponível no site do banco.
A dissertação de Decotelli também está disponível na internet: no repositório digital da FGV.
Uma ferramenta chamada Copyleaks permite comparar os dois textos lado a lado.
Por exemplo, na página 27 do relatório da CVM consta o trecho: “[a] abrangência dos pontos de atendimento e a ampla base de clientes são vantagens agregadas a um diferencial exclusivo: o Banricompras, o maior cartão de marca própria do Brasil”.
Decotelli registrou no mestrado: “[a] abrangência dos pontos de atendimento e a ampla base de clientes são vantagens agregadas a um diferencial exclusivo: o Banricompras, o maior cartão de marca própria da América Latina”.
O relatório da CVM diz: “[m]ais forte e rentável, com uma gestão adequada e transparente, o Banrisul segue a passos firmes no propósito de ganhar posições de destaque no cenário nacional”.
Decotelli registrou texto bem parecido: “[m]ais forte e rentável, com uma gestão adequada e transparente, o BANRISUL segue no propósito de ganhar posições de destaque no cenário econômico-financeiro nacional”.
Sobre a qualidade da carteira, a CVM disse: “[a] política de administração de riscos adotada pelo Banrisul, aliada à política de crescimento da carteira em produtos de menor risco, principalmente no crédito consignado à pessoa física, possibilitou a contínua melhora na qualidade da carteira de crédito”.
Já Decotelli escreveu: “[a] política de administração de riscos de crédito adotada pelo BANRISUL, aliada à política de crescimento da carteira em produtos de menor risco, principalmente no crédito consignado a pessoa física, possibilitou a contínua melhoria na qualidade da carteira geral”.
Na página 41 do relatório da CVM consta o trecho “[o] Banrisul intensifica sua presença no mercado através de parcerias com estabelecimentos comerciais autorizados a liquidar títulos de cobrança e contas de concessionárias de serviços públicos, agregando praticidade e comodidade aos clientes, que dispõem de uma ampla rede de pontos de atendimento para a realização de transações financeiras”.
Na dissertação de Decotelli, esse mesmo trecho aparece, verbatim, na página 51. Sem menção ao relatório da CVM.
A sigla ‘CVM’ aparece 10 vezes no texto de Decotelli. Nenhuma delas menciona o relatório da comissão.
O texto da CVM é assinado pela auditoria Deloitte e pelo contador Fernando Carrasco. Os termos ‘Deloitte’ e ‘Carrasco’ estão ausentes da dissertação do hoje ministro.
Tem mais.
Como reparou primeiro o professor Thomas Conti, o mestrado de Decotelli também tem trechos idênticos aos do artigo Mudança e estratégia nas organizações: perspectivas cognitiva e institucional, publicado no livro Administração contemporânea: perspectivas estratégicas em 1999.
Por exemplo: lá em 1999, os autores do artigo escreveram que “[o] pressuposto adotado em grande parte dos processos de mudança é o de que a transformação organizacional pode ser administrada, isto é, conduzida segundo as intenções e expectativas dos líderes formais. Tal pressuposto, característico de quem adota a postura voluntarista, pode obscurecer aspectos fundamentais ao entendimento de como se processa a mudança”.
Na página 16 de seu mestrado Decotelli registrou quase o mesmo texto, apenas com um acréscimo: “[o] pressuposto adotado em grande parte dos processos de mudança é o de que a transformação organizacional pode ser administrada, isto é, conduzida segundo as intenções e expectativas dos líderes formais em busca da maior competitividade da organização. Tal pressuposto, característico de quem adota a postura voluntarista, pode obscurecer aspectos fundamentais ao entendimento de como se processa a mudança”.
O artigo dos anos 90 é assinado por Clóvis L. Machado da Silva, Valéria Silva da Fonseca e Bruno H. Rocha Fernandes. Desta vez, o texto consta nas referências bibliográficas de Decotelli. Porém, o trecho citado não está entre aspas, ou seja, não fica claro para o leitor que o texto veio originalmente de outra fonte.
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