Mesmo após acusação de racismo religioso, Claudia Leitte canta o “rei Yeshua”
Após um período de silêncio sobre o assunto, Claudia Leitte se manifestou durante uma coletiva de imprensa realizada na madrugada do dia 30 de dezembro
Mesmo após a controversa denúncia de racismo religioso de que foi alvo recentemente, a cantora Claudia Leitte voltou a trocar o trecho de uma música no pré-Réveillon em Recife.
Claudia Leitte se tornou alvo de um inquérito conduzido pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) após uma apresentação em Salvador no dia 14 de dezembro.
A artista é acusada de racismo religioso por ter modificado a letra de sua canção “Caranguejo”, lançada em 2004. Durante o show, em vez de mencionar a rainha Iemanjá, ela optou por entoar “eu canto meu rei Yeshua”, fazendo referência a Jesus em hebraico.
Após um período de silêncio sobre o assunto, Claudia Leitte se manifestou durante uma coletiva de imprensa realizada na madrugada do dia 30 de dezembro:
“Esse é um assunto muito sério. Daqui do meu lugar de privilégio, o racismo é uma pauta que deve ser discutida com a devida seriedade, e não de forma superficial. Prezo muito pelo respeito, pela solidariedade e pela integridade. Não podemos negociar esses valores de jeito nenhum, nem os jogar ao tribunal da internet. É isso”.
A denúncia contra Claudia Leite
O Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro) e a mãe de santo Jaciara Ribeiro formalizaram uma denúncia contra a cantora. Segundo eles, a alteração na letra representa uma forma de discriminação contra as religiões afro-brasileiras. A Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa está atualmente investigando o caso.
Além disso, Pedro Tourinho, secretário de Cultura e Turismo da capital baiana, criticou publicamente a atitude da artista através de seu perfil no Instagram, embora não tenha mencionado Claudia diretamente.
Tourinho falou sobre o papel da cultura negra na Axé Music e a presença predominante dos artistas brancos nesse cenário: “O papel da cultura negra no axé music, o protagonismo dos cantores brancos, com os negros na composição e na ‘cozinha’, são fatos que não podem ser contornados. Não é para se fazer caça às bruxas, mas sim fazer justiça e colocar tudo no seu devido lugar”.
Ele acrescentou: “Quando um artista se diz parte desse movimento e reverencia sua percussão e musicalidade, mas escolhe reescrever a história retirando o nome dos Orixás das músicas, isso é racismo, e reforça o que houve de errado naquele tempo”.
Perseguição de Estado
O advogado e professor, especialista em liberdade de expressão e direito digital, Andre Marsiglia afirmou, em artigo publicado no site Poder 360, que “o caso Cláudia Leite é perseguição religiosa do Estado.”
“Achar que alguém pode ser racista em uma música é o mesmo que achar que atores e roteiristas podem ser assassinos em um filme de faroeste. No máximo, a alteração pode ofender o direito autoral do compositor, algo que não tem nada a ver com crime de racismo e deve ser discutido no Judiciário entre particulares”, escreveu Marsiglia, e acrescentou:
racismo religioso é o ato de rebaixar deliberadamente alguém ou grupo em razão de sua fé. Claudia não fez isso, apenas reforçou a dela ao cantar “Jesus”. Quem acredita que trocar a letra de uma música em favor de sua fé humilha a do outro entende que sua crença é melhor, mais adequada ou correta. Portanto, quem está vendo racismo no episódio, ainda que não perceba, é o verdadeiro preconceituoso da história.”
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