Merkel lança memórias e alerta: A democracia liberal está em risco
"Cada geração deve lutar novamente para preservar o que foi alcançado. Talvez estivéssemos demasiado otimistas em 1990, após o fim da Guerra Fria", declarou a ex chanceler da Alemanha
O legado de Angela Merkel continua a dividir a Alemanha, um contraste marcante com a estabilidade política que marcou seus 16 anos no poder.
Enquanto alguns atribuem a ela a origem de muitos dos desafios atuais, criticando-a pelo acolhimento de refugiados sírios, o abandono da energia nuclear e o fortalecimento das relações com a China e a Rússia, outros recordam com saudade sua liderança ponderada e equilibrada. Para estes últimos, os anos de Merkel representam um período de tranquilidade antes do atual cenário mundial mais volátil.
Três anos após sua saída do governo, suas memórias foram publicadas na Alemanha, que enfrenta agora uma recessão econômica e tensões políticas internas, relembrando o rótulo de “homem doente da Europa”, similar ao final dos anos 1990.
Nesse contexto crítico, as reflexões da ex-chanceler oferecem insights valiosos sobre suas decisões e seu tempo no poder. Em uma entrevista à revista francesa Le Point , Merkel reflete sobre sua carreira e os desafios enfrentados durante seu governo.
Solidão e poder
“Enquanto escrevia, percebi que a solidão me convinha. Embora eu realmente goste da companhia de outras pessoas, consegui me concentrar em escrever isoladamente e gostei da experiência”, diz Merkel
Questionada sobre o fato de ter sido considerada por muito tempo a mulher mais poderosa do mundo, Merkel afirma que “o poder era a possibilidade de construir maiorias democráticas para levar a cabo os projetos políticos. Para que eu pudesse tomar decisões e mudar as coisas”.
Ela afirma não sentir falta da atividade política, mas de sentir falta dos encontros com certas personalidades, incluindo o Presidente Macron.
Liberdade
O título do livro de memórias de Merkel é “Liberdade”, sobre isso a ex-chanceler explicou:
“Percebemos, atualmente, que a liberdade não surge naturalmente. Cada geração deve lutar novamente para preservar o que foi alcançado. Talvez estivéssemos demasiado otimistas em 1990, após o fim da Guerra Fria.
Pensávamos que tudo seria mais fácil, que estávamos irreversivelmente comprometidos com o caminho da liberdade. Mas, como alguns desenvolvimentos nos mostraram desde então a democracia liberal ainda corre o risco de ser amputada.
Isso me preocupa, é claro, mas não me desanima. É por isso que considero o título do meu livro, Liberdade, muito apropriado neste momento”.
Mulher entre homens
Questionada sobre como teve sucesso como mulher no mundo da política dominado pelos homens, Merkel afirma não acreditar que tenha sido prejudicada por ser mulher e que, uma vez chanceler, sempre foi capaz de se impor, mas que antes de ser eleita chanceler foi um pouco difícil:
“Ser mulher certamente não era uma vantagem. Percebi isto particularmente antes da minha primeira eleição, em 2005. Isto motivou-me, à medida que progredi na minha carreira política, a comprometer-me com a causa das mulheres”.
Ela afirma também estar convencida de que a participação das mulheres na vida pública, em pé de igualdade com os homens, não acontecerá por si só. O Estado deve promovê-lo ativamente.
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