Mensagens indicam que Hapvida pressionou médicos a prescreverem kit Covid
Áudios e mensagens de Whatsapp indicam que a operadora de planos de saúde Hapvida, a maior das regiões Norte e Nordeste, pressionava médicos a prescreverem medicamentos ineficazes contra a Covid. Em 20 de janeiro, médicos da empresa receberam a seguinte mensagem de voz...
Áudios e mensagens de Whatsapp indicam que a operadora de planos de saúde Hapvida, a maior das regiões Norte e Nordeste, pressionava médicos a prescreverem medicamentos ineficazes contra a Covid.
Em 20 de janeiro, médicos da empresa receberam a seguinte mensagem de voz de em caminhada pelo dirigente da empresa Alexandre Wolkoff:
“A gente tem uma luta muito grande nos próximos dias para aumentar consideravelmente a prescrição de cloroquina, o kit Covid, para garantir que a gente tenha menos pacientes internados.”
O áudio, obtido por O Globo, afirma ainda que a orientação vale para todas as unidades da operadora.
“Eu peço para vocês. A liderança de cada unidade, a diretoria médica, os regionais precisam liderar isso. A gente precisa subir a prescrição de cloroquina. Então, eu peço que vocês… não é só para Manaus, só para uma unidade ou outra, mas para todos as unidades, a gente (tem que) ter um aumento significativo da prescrição do kit Covid. Cada diretor médico da unidade é diretamente responsável por esse indicador.”
Em novembro de 2020, outro diretor da Hapvida da Bahia, identificado como Eric Morais, enviou uma planilha que trazia a incidência da recomendação do “kit covid” em cada hospital do grupo, destacadas em diferentes cores.
Em vermelho, apareciam as porcentagens abaixo de 50% na receita dos medicamentos. Em amarelo, entre 50% e 70%. Em verde, os acima de 70%, mostrando que os médicos tinham “metas” de prescrição de cloroquina.
“Preciso muito do apoio de todos vocês porque todas unidades ainda abaixo da meta.”
Segundo outros médicos ouvidos pela reportagem, quem não prescrevia o tratamento precoce acabava entrando numa espécie de lista que envolvia punições como advertência e mudanças na escala de plantão.
Ex-médicos da Prevent Senior denunciaram que a empresa realizava experimentos sem eficácia comprovada contra a Covid sem o consentimento dos pacientes e também pressionava os funcionários a prescreverem as substâncias.
Em nota oficial, a Hapvida afirmou que não prescreve mais o medicamento contra Covid:
“No passado, havia um entendimento de que a hidroxicloroquina poderia trazer benefícios aos pacientes. No melhor intuito de oferecer todas as possibilidades aos nossos usuários, houve uma adesão relevante da nossa rede, que nunca correspondeu à maioria das prescrições. Nas ocasiões em que o médico acreditava que a hidroxicloroquina poderia ter eficácia, sua definição ocorria sempre durante consulta, de comum acordo entre médico e paciente, que assinava termo de consentimento específico em cada caso. Ainda assim, há meses, não se observa a prescrição dessa medicação nas nossas unidades”, disse a empresa.
“A adoção da hidroxicloroquina foi sendo reduzida de forma constante e acentuada. Hoje a instituição não sugere o uso desse medicamento, por não haver comprovação científica de sua efetividade”, complementou o plano de saúde.
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