Lula leva bronca de Nobel da Paz iraniana
"Se Lula é de esquerda e defensor da classe operária, deveria saber que o regime iraniano é inimigo da classe operária"
Vencedora do Nobel da Paz de 2003, a ativista pelos direitos humanos iraniana Shrin Ebadi criticou Lula por seu silêncio sobre a repressão do regime teocrático do Irã.
“Lamento com amargura que o presidente Lula não esteja bem informado”, disse Ebadi em entrevista à Folha de S. Paulo publicada na noite de sexta-feira, 8 de março.
“Se ele é de esquerda e defensor da classe operária, deveria saber que o regime iraniano é inimigo da classe operária”, acrescentou.
A ativista iraniana criticou, em específico, a obsessão de Lula com o antiamericanismo em sua política externa.
“Para ser justo, não basta se insurgir contra os EUA e protestar. É preciso ter outras coisas a dizer”, afirmou Ebadi.
“O presidente Lula tem tendência a achar que basta ser contra os EUA para que se esteja do lado dele, que os inimigos dos meus inimigos são meus amigos”, acrescentou.
O antiamericanismo da diplomacia presidencial de Lula foi tema de episódio do podcast Latitude em fevereiro com o embaixador Paulo Roberto de Almeida, colunista de Crusoé.
Lula segue se explicando sobre militares
No mês em que se completa 60 anos do golpe civil-militar de 1964, Lula (PT; foto) tenta afagar os militares com declarações relativizando a participação das Forças Armadas na política.
Nesta sexta-feira, 8 de março, o petista afirmou que “os militares sempre tiveram uma interferência na política brasileira”.
“No Brasil, tudo é mais demorado. Nossa independência foi mais demorada. O fim da escravidão, a nossa democracia… Desde que foi proclamada a República, que foi um golpe contra o imperador, os militares sempre tiveram uma interferência na política brasileira”, disse Lula em almoço com servidoras do Executivo para o Dia das Mulheres.
“Remoendo sempre”
A declaração desta sexta vem na esteira de outra relativização da participação militar na política.
Lula minimizou a ditadura civil-militar de 1964 em sua entrevista gravada à RedeTV transmitida na noite de 27 de fevereiro.
O petista afirmou que não quer “ficar remoendo sempre” em relação à memória da repressão.
Ele havia sido questionado sobre o impacto do legado da ditadura sobre a relação do governo com as Forças Armadas atualmente.
“Eu, sinceramente, vou tratar da forma mais tranquila possível. Eu estou mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64. Eu tinha 17 anos de idade, estava dentro da metalúrgica Independência quando aconteceu o golpe de 64”, disse Lula.
“Isso já faz parte da história. Já causou o sofrimento que causou. O povo já conquistou o direito de democratizar esse país”, acrescentou.
Então, Lula afirmou: “O que eu não posso é não saber tocar a história para frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre, ou seja, é uma parte da história do Brasil que a gente ainda não tem todas as informações”.
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