Leonardo Barreto na Crusoé: Nenhuma ideia vale uma vida
As ideias violentam a realidade, mas não a condicionam
Na abertura do livro Os irmãos Karamazov, clássico do escritor russo Fiódor Dostoiévski, há menção a uma garota que havia se tornado “prisioneira” de uma ideia dramática: morrer em nome de um amor proibido, tirar a própria vida como um ato extremo de rebeldia.
Só que havia um problema. O homem que ela havia escolhido amar era aprovado pela sua família e eles poderiam se casar tranquilamente.
A própria moça então começou a levantar vários impeditivos, ver barreiras instransponíveis que não existiam até ficar convencida de que aquela união era impossível. Procurou um penhasco e se jogou, realizando o destino que ela idealizou para si.
As ideias violentam
A personagem não tem um papel na trama. Mas, contando esse caso, Dostoiévski introduz uma percepção sobre a relação entre ideias e realidade na qual as primeiras violentam – mas não condicionam – a segunda.
A idealização da moça, de viver um amor impossível, definiu seu comportamento e sua morte, sendo fundamental para o seu final, mas sem alterar o contexto à sua volta, a existência de um amor disponível e uma família compreensiva. Pode-se dizer um dane-se para a realidade, mas ela continua ali.
O problema
É possível transportar o comportamento da moça para o plano coletivo a partir do mandamento tão comum no pensamento da esquerda de que “a realidade é socialmente construída.”
Se você quer dizer com isso que muitas coisas do mundo são influenciadas pelas interações entre indivíduos, provavelmente está correto. Mas, se você acha que tudo o que existe é resultado de uma mística vontade coletiva, aí há um problema.
Isso porque pessoas são realidades objetivas em si mesmas, são fatos, não construções.
Pode-se, a partir de sistemas educacionais e leis, inseri-las dentro de contextos nos quais ela terá mais ou menos recursos e buscará se adaptar, pois a vida com os outros inescapavelmente tem seus…
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