La Niña pode atrapalhar recorde de safra de soja
O fenômeno climático La Niña pode atrapalhar o recorde projetado para a safra de soja brasileira em 2024/2025.
Se “no meio do caminho tinha uma pedra”, como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, na safra 2024/2025 do Brasil também há um obstáculo que pode atrapalhar as projeções dos analistas de uma safra recorde de soja – e ele atende pelo nome La Niña.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta em 169 milhões de toneladas a produção brasileira. Caso confirmado, seria um recorde. Desde junho, o órgão americano mantém nesse patamar a estimativa de soja do país, mas o fenômeno climático pode frustrar essa expectativa, além de afetar a rentabilidade da soja brasileira.
No último levantamento da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOOA, na sigla em inglês), reportado no início deste mês, há 66% de risco de o La Niña ocorrer a partir de setembro. A previsão é de que ele atue até fevereiro.
O que é o La Niña?
O La Niña é um evento climático no qual a temperatura do Oceano Pacífico na região tropical fica abaixo da média. Esse resfriamento provoca uma série de efeitos climáticos, que incluem chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas áreas da América do Sul.
O ponto de consenso entre os meteorologistas, contudo, não é se o La Niña vai ocorrer, e sim quando e quais serão seus reais impactos no agronegócio. No caso brasileiro, as atenções estão voltadas para o Centro-Oeste e o Sul do país, onde estados como Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul respondem por mais de 80% da produção de soja.
Qual a previsão para a safra de soja?
Na última vez em que tivemos o La Niña, em 2022/2023, a produção de soja no Centro-Oeste do Brasil foi muito boa. Portanto, apesar das dificuldades, a presença do La Niña não necessariamente implica resultados negativos.
Na temporada 2023/24, que começou em 1º de julho do ano passado e foi até 30 de junho de 2024, a expectativa do mercado era de que o Brasil batesse recorde com uma produção de soja que ultrapassasse com folga os 150 milhões de toneladas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o país tenha colhido 147,38 milhões de toneladas.
Como o La Niña pode impactar a soja?
As projeções caíram por terra quando a realidade climática se impôs: em várias regiões do Brasil, as chuvas irregulares causaram atrasos na semeadura e nos replantios. Além disso, a combinação de estiagem e altas temperaturas acelerou o ciclo das plantas, especialmente das cultivares precoces.
O Brasil é o maior produtor global de soja, acompanhado de Estados Unidos e Argentina. Juntos, esses países devem somar 340,7 milhões de toneladas de soja em 2024/25 – os EUA e a Argentina devem produzir 120,7 e 51 milhões de toneladas, respectivamente, segundo o USDA. Além disso, o Brasil é o principal exportador mundial do grão.
Quais são as estimativas para exportações de soja?
Na temporada 2024/25, o país deve embarcar 105 milhões de toneladas de soja e produzir 163 milhões de toneladas, segundo estimativas do Itaú BBA Agro. A China deve ser o principal destino dessas exportações. Se por um lado há um consenso de que a produção deve atingir um pico máximo, há divergências quando o tema é a rentabilidade da soja. Analistas do setor quebram a cabeça para entender como os preços vão se comportar.
De acordo com o pesquisador Mauro Osaki, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a rentabilidade da soja nas últimas safras no Brasil apresentou uma queda significativa. A temporada 2022/23 teve uma diminuição de quase 51% em relação ao ciclo 2021/22, enquanto a safra 2023/24 apresentou uma retração de cerca de 30% em relação à safra 2022/23.
Mesmo com a perspectiva de menores preços da soja, França Júnior endossa o coro de uma eventual queda nos custos, com destaque para os insumos, que devem variar entre 5% e 10%, dependendo da região. “Se o produtor conseguir colher adequadamente, com uma boa produtividade, ainda há potencial para obter lucratividade positiva”, destaca o líder de conteúdo da Datagro Grãos.
Mais otimista do que seus pares, a Safras & Mercado projeta uma produção de 171,5 milhões de toneladas na temporada 2024/2025. Segundo Luiz Fernando Gutierrez, especialista no mercado de soja da consultoria, esse montante deve ser alcançado com um aumento de 1,9% na área cultivada, que deve atingir 47,3 milhões de hectares.
- Estimativa USDA: 169 milhões de toneladas
- Estimativa Conab: 147,38 milhões de toneladas
- Estimativa Itaú BBA Agro: 163 milhões de toneladas
- Estimativa Safras & Mercado: 171,5 milhões de toneladas
Historicamente, o fenômeno La Niña tende a provocar um clima seco na Região Sul do Brasil, onde estão localizados Paraná e Rio Grande do Sul. No entanto, nem sempre o La Niña resulta em perdas significativas em nível nacional. Se o Brasil baterá recorde ou não nesta temporada, e se a rentabilidade será melhor do que nas últimas safras, o tempo irá dizer.
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