Josias Teófilo na Crusoé: O Brasil precisa libertar-se de Oscar Niemeyer
O problema é que a qualidade de sua produção decaiu com o tempo, e ele viveu muito: morreu em 2012 aos 104 anos
Oscar Niemeyer tem seu lugar na história da arquitetura.
Nascido em 1907, foi provavelmente um dos arquitetos que mais construiu no mundo: fez os principais prédios da capital do Brasil, cidade nascida já moderna, projetou a sede da ONU em Nova York, a sede do Partido Comunista francês, e tantos outros edifícios internacionalmente reconhecidos.
Niemeyer é o arquiteto do grande gesto formal: consegue como ninguém demarcar um espaço e conceber a forma arquitetônica como símbolo.
Fez isso em Brasília – na Praça dos Três Poderes, na Catedral da cidade, ou na Igrejinha (que não é menos relevante) – no Museu do Olho em Curitiba, na Pampulha em Belo Horizonte, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Palácio Mondadori em Milão, e por aí vai.
O problema é que a qualidade da produção de Oscar Niemeyer decaiu com o tempo, e ele viveu muito: morreu em 2012 aos 104 anos.
E com o prestígio crescente, Niemeyer produziu até o final da vida, com o escritório que o dava suporte – aparentemente ele desenhava os traços gerais e os outros arquitetos do escritório detalhavam as obras.
O arquiteto tinha o hábito de criar um palco para as próprias obras: fez isso na Praça dos Três Poderes, no Memorial de América Latina em São Paulo, e no Parque Dona Lindu, no Recife. Ele criava a obra e o palco para obra.
No caso do Parque Dona Lindu isso causou um problema grave.
O parque era um terreno pertencente à Marinha na beira-mar do bairro de Boa Viagem, no Recife.
Uma associação de moradores do bairro pediu durante anos que um parque fosse construído no local.
Um parque, não uma estrutura de concreto sem árvores.
O prefeito do Recife na ocasião, João Paulo, do PT, encomendou uma obra a Oscar Niemeyer.
Não abriu concurso para o projeto, apenas fez uma encomenda ao famoso arquiteto.
O resultado foram duas estruturas redondas, um teatro e uma galeria de arte, cercada de concreto, sem árvores.
Evidentemente foi um escândalo: o projeto era o contrário do que os moradores pediam.
Uma paródia de uma música de Alceu Valença viralizou nas redes sociais criticando o projeto, em é dito: “Fizeram um parque esquisito na praia de Boa Viagem, botaram dois prédios redondos em formato de c*”.
O projeto foi alterado pelo arquiteto, que acrescentou mais árvores, diminuiu a superfície com concreto, e o projeto foi construído.
Hoje é um dos espaços públicos mais feios do Recife.
Eu pessoalmente gostaria de vê-lo dinamitado, talvez das ruínas cobertas pela vegetação surgisse algo mais interessante.
Penso o mesmo em relação ao Memorial da América Latina, em São Paulo.
A obra de Niemeyer foi feita às pressas e tem inúmeros problemas: a biblioteca não foi construída tendo um cuidado acústico, tudo repercute imensamente por causa do teto arredondado, a galeria de arte precisou ser inteiramente coberta de cortinas, e o principal: o lugar é uma praça fechada, coberta de concreto, sem o mínimo de integração com a natureza.
Um lugar que, em suma, não integrou-se à cidade, nem à sua vida cultural.
Precisamos fazer uma revisão crítica do modernismo brasileiro, incluindo a obra de Oscar Niemeyer, e refletir seriamente sobre o que precisa ser mantido e o que deve ser requalificado, alterado ou até destruído, como é o caso dessas duas obras.
A dificuldade em trazer esse debate à tona é o que modernismo, no Brasil…
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