Josias Teófilo na Crusoé: A cultura em xeque
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Josias Teófilo na Crusoé: A cultura em xeque

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Redação O Antagonista
4 minutos de leitura 12.01.2025 09:22 comentários
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Josias Teófilo na Crusoé: A cultura em xeque

Falta de dialogo da classe artística com a sociedade gera ódio aos mecanismos de fomento

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Josias Teófilo na Crusoé: A cultura em xeque
Caetano Veloso canta “Deus cuida de mim”. Reprodução/redes sociais

O prêmio dado a Fernanda Torres no Globo de Ouro produziu todo um debate nas redes sociais.

Alguns mais à direita criticaram a atriz por suas posições políticas.

Outros, à esquerda, classificaram como uma vitória contra Jair Bolsonaro que, segundo eles, quis acabar com o cinema brasileiro e as leis de incentivo.

É um debate muito pouco qualificado, baseado em paixões políticas e sentimento de pertencimento a grupos, muitas vezes radicalizados.

Evidentemente é um absurdo desdenhar do trabalho de Fernanda Torres por suas posições políticas.

O prêmio a ela dado traz atenção ao cinema brasileiro no exterior, ajuda a encher as salas de cinema (que estavam mal desde a pandemia), fortalece o mercado audiovisual e a nossa economia.

É bom para todo mundo.

O prêmio é o resultado de uma carreira de sucesso de várias décadas e merece todo o nosso louvor.

Marcelo Rubens Paiva, o comunista autor do livro que virou filme, declarou o seguinte: “Tentaram acabar com o cinema brasileiro, criminalizar leis de incentivo à cultura, mas nós ainda estamos aqui. Eles se vão, a gente fica“.

Defendo há anos as leis de incentivo e o financiamento público de cultura, mas não compartilho da opinião do escritor: não sei se a classe artística vai continuar dispondo das leis de incentivo num futuro próximo.

Pelo seguinte motivo: nas últimas décadas, desde a redemocratização, a classe artística encastelou-se.

A esquerda tornou-se hegemônica como nunca no meio cultural, e como talvez poucos lugares do mundo.

É natural que uma parcela da população não se sentisse representada por essa classe artística – ainda mais por que ela não raro se torna monotemática “ele não”, “fora, Temer” etc, autorreferente e totalmente alienada (como nas críticas que fazia às queimadas na Amazônia durante o governo Bolsonaro, ignorando o tema no governo Lula).

Sempre lembro do saudoso Alberto Dines quando escreveu no livro O Papel do Jornal, que um veículo ideal teria todos os setores representados em sua redação.

O mesmo poderia ser dito do meio artístico: todos os setores da sociedade deveriam estar ali representados. Infelizmente não é o que acontece.

Não só uma grande parcela da sociedade não é representada de forma alguma, como é literalmente censurada – como os evangélicos na música pop, ou os conservadores no circuito do cinema autoral.

Existe a censura e existe a autocensura – muitas obras simplesmente não são feitas, sabendo que não teriam espaço.

Conheço várias pessoas que são de direita ou conservadores e não podem se expressar publicamente, pois seriam hostilizadas no meio que trabalham, o meio artístico.

Isso tudo enfraquece muito a classe artística frente à população em geral.

E, ao que tudo indica, a esquerda identitária vai sair do poder em 2026 – Lula já apresentou graves problemas de saúde, está com idade avançada e a economia vai muito mal. Até o seu Ministério da Cultura está perdendo o apoio da classe artística.

Existem várias tendências da direita em ascensão no mundo: o modelo do argentino Javier Milei, que é mais liberal, o do salvadorenho Nayib Bukele (voltado para a diminuição da criminalidade), o do americano Donald Trump o do bolsonarismo brasileiro.

Não vejo como nenhuma dessas tendências – liberal, voltada para a lei e a ordem, trumpista, ou o bolsonarismo – mantenha as leis de incentivo como existem no Brasil, se chegarem ao poder.

Tão grande foi a separação da classe artística com a sociedade em geral – coisa inexistente no passado – que os mecanismos de fomento tornaram-se impopulares, são constantemente questionados, muita gente os odeia e fará de tudos para acabar com eles.

Se acabarem – no caso de um Executivo e um Parlamento que formem maioria com esse objetivo – acho muito difícil que exista um movimento significativo na sociedade para reverter essa situação.

É hora da classe artística começar…

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