Jerônimo Teixeira na Crusoé: Flávio Dino grita “fogo” na biblioteca vazia
Ao recorrer a um clichê da cultura jurídica no Instagram, o ministro do STF, sem querer, invalida sua própria decisão censória
Ando cansado.
Foi com cansaço que escrevi a coluna da semana passada, sobre a censura a quatro livros jurídicos determinada por Flávio Dino, ministro do STF. É com cansaço que volto ao tema hoje.
Tenho falado demais em liberdade de expressão. Meus poucos leitores também já devem estar cansados. Mas que posso fazer, se ainda não superamos a censura – se o “Cala-a-boca já morreu” da ministra Cármen Lúcia no julgamento das biografias não autorizadas converteu-se em “Cala-a-boca ainda aparece aqui quando a gente chama“?
Cansaço é um estado físico. Não se trata de uma emoção.
Faroeste digital
Digo isso porque Dino, em pronunciamento no STF, afirmou que vem sendo “premiado com reações muito emocionadas” à decisão de proibir a circulação dos livros e de destruir os exemplares ainda existentes.
Perturbado por tantas emoções, o ministro desceu ao “faroeste digital”. No Instagram, publicou o print de um texto produzido pela Meta AI, a inteligência artificial de Mark Zuckerberg.
A máquina, muito sábia, esclareceu que a liberdade de expressão não é “absolutamente ilimitada” e listou oito categorias de limitação. No comentário, Dino afirmou que esse texto breve será “leitura útil” para quem “não pode ou não quer pesquisar profundamente”.
Inteligência natural
Sinto decepcionar o ministro, tão encantado com o admirável mundo novo à sua disposição no smartphone: minha inteligência natural não aprendeu nada de novo com a inteligência artificial do WhatsApp.
Todo direito tem limites, nenhuma liberdade é absoluta. Ora, que descoberta… Até onde vi, nenhum dos críticos da decisão de Dino na imprensa (não foram muitos…) afirmou ou sugeriu que a liberdade de expressão deva ser totalmente irrestrita.
A questão que a Meta AI não saberá responder diz respeito ao caso particular: por que os trechos machistas e homofóbicos dos quatro manuais jurídicos não mereceriam abrigo sob “o manto da,..
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