Jair Bolsonaro imita o Irã e a Venezuela
Jair Bolsonaro quer abrir mão de 59 bilhões de reais em impostos, para subsidiar o consumo de gasolina e diesel. Ao câmbio atual, isso equivale a 10,7 bilhões de dólares. Se o plano for adiante, o Brasil, que hoje não aparece sequer na lista dos 25 países que mais subsidiam o consumo de combustíveis e energia no mundo, vai entrar logo entre os dez mais...
Jair Bolsonaro (foto) quer abrir mão de 59 bilhões de reais em impostos, para subsidiar o consumo de gasolina e diesel. Ao câmbio atual, isso equivale a 10,7 bilhões de dólares.
Se o plano for adiante, o Brasil, que não aparece sequer na lista dos 25 países que mais subsidiam o consumo de combustíveis e energia no mundo, vai entrar logo entre os dez mais.
E quem faz parte desse clube? Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), são Irã, China, Índia, Arábia Saudita, Rússia, Argélia, Egito, Indonésia, Emirados Árabes Unidos e Venezuela, nessa ordem.
Na verdade, somente China e Índia gastam sistematicamente mais de 10 bilhões de dólares ao ano para baratear o preço final dos derivados de petróleo.
A Rússia subsidia apenas gás e eletricidade. Além disso, países que são grandes produtores de petróleo, como Irã, Venezuela, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, conseguem manter os preços baixíssimos nos postos, sem precisar abrir mão de tantos recursos em termos absolutos. O que não impede os subsídios de consumir recursos preciosos, que poderiam ser utilizados em saúde, educação, infraestrutura ou qualquer outra coisa, em vez de virar fumaça preta: na Venezuela, por exemplo, eles equivalem a 6,8% do PIB; na Argélia, a 5,8%; no Irã, a 4,7%.
Instituir um subsídio é fácil e faz bem para a imagem do governo. Por isso Bolsonaro está tão interessado em aprovar sua medida. É populismo na veia, em um ano eleitoral. É interessante observar que os campeões do subsídio são, na sua maior parte, regimes personalistas e autoritários. Enquanto estragam a vida do cidadão, eles lhe atiram alguns centavos para encher o tanque.
Se dar é fácil, retirar subsídios é diabolicamente difícil. No Irã, na Venezuela e no Egito, aumentos dos preços nas bombas de gasolina chegaram a causar distúrbios nas ruas.
Ainda assim, todos esses países estão tentando reverter suas políticas para os combustíveis. A longo prazo, elas são insustentáveis. Mais fragilizam do que fortalecem a economia do país. Além disso, existe a questão ambiental e toda a pressão pela mudança para padrões energéticos limpos. Mas sabemos que Bolsonaro está pouco se lixando para isso.
Há um tipo de subsídio a combustíveis contra o qual ninguém reclama: o do gás de cozinha. Ele é direcionado às famílias mais carentes, em vez de atingir indiscriminadamente quem dirige uma Mercedes ou uma Variant 1977, um jet ski ou uma lambreta. Justiça seja feita, o governo Bolsonaro criou um vale-gás. Ele absorve 1,9 bilhões de reais do orçamento, ou cerca de 345 milhões de dólares.
Abrir mão de quase 60 bilhões de reais para incentivar as pessoas a andar de automóvel, num país onde faltam recursos públicos para finalidades muito mais urgentes, é uma ideia estúpida e retrógrada. Mas quando se trata de pôr o Brasil na contramão do mundo, Jair Bolsonaro não falha.
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