Investigação sobre “Abin golpista” põe Ramagem na berlinda
PF deve concluir até final do ano investigação sobre Abin Paralela como meio de sustentação para "trama golpista"
A Polícia Federal deve concluir até o final do ano a investigação sobre a existência de uma rede paralela na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que ficou conhecida como Abin Paralela, e foi supostamente montada para monitorar inimigos do governo de Jair Bolsonaro. A informação sobre o prazo de conclusão das investigações foi confirmada por O Antagonista.
O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que também estavam envolvidos na cúpula da agência, são alvos dessa apuração.
Ramagem, Bormevet e Giancarlo também são parte dos indiciados no inquérito que investiga a tentativa de golpe para garantir a permanência de Bolsonaro no poder e barrar a posse do presidente Lula. A Polícia Federal diz ter encontrado conexões entre os dois casos.
O que dizem os investigadores
De acordo com os investigadores, uma ala da Abin teria sido “aparelhada” duranto o governo Bolsonaro para garantir que o ex-presidente permanecesse no cargo. A PF aponta que Ramagem teria orientado o presidente a descreditar as urnas eletrônicas e intensificar uma linha de ataque ao “sistema”. Arquivos de e-mails de Ramagem encontrados pelos investigadores corroboram essa versão.
Em seu depoimento à PF, o deputado admitiu que escrevia textos para a comunicação de assuntos de interesse de Bolsonaro. Mas negou envolvimento na suposta tentativa de golpe e a existência de uma estrutura paralela na Abin.
TSE informa
Um dos documentos encontrados nos arquivos de Ramagem, denominado “Presidente TSE informa.docx”, detalha uma estratégia para explorar politicamente a “vulnerabilidade” das urnas eletrônicas. O texto sugere que o foco não deve ser a anulação de votos, mas reforçar a desconfiança pública sobre o sistema de votação, algo que já seria “consolidado subjetivamente” pela população desde 2018.
Outro arquivo, intitulado “Presidente.docx”, traz uma recomendação de Ramagem sobre adotar uma “postura belicosa com estratégia”. O texto afirma que, apesar das dificuldades, Bolsonaro não só sobreviveu à crise, como se tornou mais forte politicamente, sugerindo que a luta a ser enfrentada seria mais intensa, demandando uma abordagem agressiva e calculada.
“O Sr. mais do que ninguém conhece o sistema e sabe que não houve apenas quebra de paradigma na sua eleição, mas ruptura com esquema dos poderes (…) nenhuma crise conseguiu enfraquecer sua base e não aparenta haver políticos à altura de vencê-lo em 2022. Portanto, parece que a batalha maior será agora, requerendo atitude belicosa com estratégia”, diz o texto.
Depoimentos
Na terça-feira, o policial federal Wladimir Matos Soares também incluído entre os indiciados, prestou depoimento à PF. Ele relatou que foi abordado por Alexandre Ramalho, outro policial federal e ex-assessor de Ramagem na Abin, para fornecer informações sobre a segurança de Lula, repassadas a auxiliares de Bolsonaro.
As investigações sobre a Abin paralela também revelaram trocas de mensagens entre Bormevet e Giancarlo, discutindo os detalhes do golpe. Em uma dessas conversas, de dezembro de 2022, Bormevet questionou Giancarlo sobre a assinatura do decreto golpista. A resposta foi de frustração com a demora, mas com esperança de que algo acontecesse.
Indiciamentos
Na última quinta-feira, 21, a Polícia Federal indiciou Bolsonaro, Ramagem, Bormevet, Giancarlo e mais 33 pessoas por crimes como a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa.
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