General Ramos e as barganhas com o Centrão
Responsável pela articulação política com o Congresso, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, foi figura-chave para a aproximação do governo Jair Bolsonaro com o bloco do Centrão. As negociações feitas por Ramos, com a participação eventual do ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, tiveram o aval do presidente... ...
Responsável pela articulação política com o Congresso, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, foi figura-chave para a aproximação do governo Jair Bolsonaro com o bloco do Centrão.
As negociações feitas por Ramos, com a participação eventual do ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, tiveram o aval do presidente.
Do outro lado do balcão, o principal negociador foi o líder do Progressistas na Câmara, o deputado Arthur Lira. Réu por corrupção, Lira passou a exercer a liderança informal do governo e é o candidato de Bolsonaro para a vaga de Rodrigo Maia na presidência da Câmara.
Segundo parlamentares do Centrão, “não há constrangimentos” por parte de Ramos para a oferta de cargos: “O general não fica nem vermelho”.
Para ampliar o espaço do bloco, o Planalto decidiu ainda pôr em negociação cargos de vice-liderança do governo na Câmara.
A troca gerou insatisfação da base bolsonarista. As mudanças foram atribuídas ao ministro da Secretaria de Governo, que sempre esteve na mira da ala ideológica.
Ramos também precisou se justificar com os militares pela aproximação do Planalto com o Centrão.
Em uma mensagem enviada a integrantes da Academia Militar das Agulhas Negras, o ministro afirmou que o presidente precisava de uma base no Congresso, que não há corrupção no governo e que, por ele, “não passa nada que não seja republicano, legal e ético”.
Ramos não se furtou a mandar recados para tentar agradar a Bolsonaro. À moda de seu chefe, atacou a imprensa pela cobertura da pandemia da Covid-19: “Não está ajudando”.
E sugeriu a repórteres: “Tem tanta coisa positiva acontecendo. É muita notícia ruim, mas vamos também divulgar notícias boas”.
Também usou a imprensa para ameaçar a democracia. Afirmou ser “ultrajante” pensar que os militares preparam um golpe: “Agora o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda”.
Criticou ainda o ministro Celso de Mello, que comparou o Brasil à Alemanha nazista, em razão da série de manifestações contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
Para Ramos, comparar o Brasil à Alemanha nazista é, “no mínimo, inoportuno e infeliz”.
Em meio a uma crise iniciada por uma declaração de Gilmar Mendes, criticando a militarização da cúpula do governo, o general Ramos foi para a reserva do Exército.
Nas Forças Armadas, a permanência do general na ativa já era vista com incômodo, por associar a imagem da instituição ao governo.
Em outubro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, provocou Ramos no Twitter e o chamou de “Maria Fofoca”.
O desgaste na relação entre os dois ministros, como mostramos, intensificou-se após o governo realizar um remanejamento orçamentário para financiar obras das pastas de Rogério Marinho, Tarcísio Freitas e do Centrão.
Em dezembro, Ramos também entrou em rota de colisão com Marcelo Álvaro Antônio, que acabou demitido do Ministério do Turismo.
Em mensagem de WhatsApp, ele disse que o general estava boicotando sua gestão e que “nosso governo paga um preço de (sic) aprovações de matérias nunca visto antes na história”, sem conseguir compor uma base sólida no Congresso.
Na costura para colocar Arthur Lira no comando da Câmara, o ministro da Secretaria de Governo deverá ser substituído por alguém do Progressistas, provavelmente Agnaldo Ribeiro, que passaria a fazer a articulação política do governo junto ao Legislativo.
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