Quando assumiu a Vice-Presidência da República (e mesmo antes, durante a campanha), o general Hamilton Mourão agia com certa independência em relação a Jair Bolsonaro e falava o que pensava.

Em março, por exemplo, quando o presidente vetou a nomeação de Ilona Szabó para integrar o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, por “incompatibilidade com o governo“, Mourão divergiu de Bolsonaro: “Perde o Brasil”.

Em relação ao aborto, Mourão defendeu que “é um direito da pessoa”, para a contrariedade dos partidários do presidente.

Enquanto Bolsonaro prometia a Benjamin Netanyahu a mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, Mourão se encontrava com o embaixador palestino no Brasil e dizia que o país não pensava na troca.

As falas, claro, geraram tensão e começou a incomodar mais e mais o Planalto, os filhos do presidente e o próprio Jair Bolsonaro.

Nas redes, Olavo de Carvalho insuflou um ataque coordenado ao general, que foi chamado pelo escritor de “charlatão desprezível”, “um cara idiota” e “moleque analfabeto”.

Por dias seguidos, Carlos Bolsonaro disparou freneticamente contra o “tal de Mourão”.

“Estranhíssimo seu alinhamento com políticos que detestam o presidente.”

Eduardo Bolsonaro, por sua vez, afirmou que “as declarações de Mourão vão na contramão do que o presidente prega”.

Em entrevista à Crusoé, em julho, Mourão admitiu publicamente ter ouvido do presidente o apelo para se expor menos e adotar um perfil mais moderado.

Foi o que aconteceu.

Se no começo do ano Mourão mostrava liberdade para criticar a flexibilização da posse de armas, por exemplo, hoje, mais alinhado ao discurso do chefe, ele já afirma: “Um milhão de armas está pouco”.

Mourão não quer o lugar de Bolsonaro. Quer paz.