General Heleno inflamável
No início do governo Jair Bolsonaro, o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, adotou figurino discreto que foi rasgado ao longo de 2019. Errou quem apostou que o general acalmaria os ânimos em 2020. A queda de braço entre os Poderes ganhou...
No início do governo Jair Bolsonaro, o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, adotou figurino discreto que foi rasgado ao longo de 2019. Errou quem apostou que o general acalmaria os ânimos em 2020.
A queda de braço entre os Poderes ganhou força em fevereiro, quando veio a público uma gravação em que o ministro expôs sua insatisfação com os parlamentares.
Heleno se queixava da pressão do Legislativo por derrubar os vetos de Bolsonaro ao orçamento impositivo. Sem saber que estava sendo gravado, o general afirmou: “Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente o tempo todo. Foda-se”.
Mais tarde, em reunião fechada, ele bateu na mesa e incentivou o presidente a “convocar o povo às ruas”.
A fala caiu como uma bomba nas relações entre os Poderes. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, rebateu a declaração do general, que ele classificou como “radical ideológico”.
“Geralmente na vida, quando a gente vai ficando mais velho vai ganhando equilíbrio, experiência e paciência. O ministro pelo jeito está ficando mais velho e está falando como um jovem.”
Davi Alcolumbre, presidente do Senado, também reagiu à declaração de Heleno e afirmou que “nenhum ataque à democracia será tolerado pelo Parlamento”.
Em maio, o ministro-chefe do GSI divulgou uma “nota à Nação brasileira” para dizer que era “inconcebível e, até certo ponto, inacreditável“ uma eventual apreensão do celular do presidente da República.
Heleno fazia referência ao pedido do ministro Celso de Mello para que a Procuradoria-Geral da República analisasse as acusações relativas a suspeitas de que Bolsonaro interferira politicamente no comando da Polícia Federal, conforme denúncia de Sergio Moro.
Segundo o chefe do GSI, o possível pedido para a apreensão do celular do presidente poderia “ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.
A mensagem, vista como ameaça às instituições, foi compartilhada pelo próprio presidente Bolsonaro.
O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, também encampou o discurso e afirmou que as Forças Armadas concordaram com a nota de Heleno.
Nas redes, as tropas bolsonaristas demandaram nada menos que o fechamento do STF, sob a hashtag “Heleno já tá na hora“.
Grupo de militares da reserva defenderam Heleno e falaram em “guerra civil”.
Neste ano, o ministro-chefe do GSI delegou a Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, uma série de atribuições administrativas que aumentaram a autonomia da Abin. A mudança diminuiu o poder do GSI sobre a Abin. Em dezembro, curiosamente, descobriu-se que a Abin de Ramagem estava tentando ajudar o senador Flávio Bolsonaro a livrar-se da investigação sobre a rachadinha que supostamente ocorria no seu gabinete de deputado estadual, sob a batuta de Fabrício Queiroz.
Em setembro, Heleno voltou a demonstrar sua lealdade ao presidente numa audiência pública no STF. Disse que “nações, entidades e personalidades estrangeiras” mentem sobre as ações do governo na Amazônia.
Sempre que teve oportunidade, o general minimizou o problema das queimadas — ou das fogueirinhas — na Amazônia. Para tentar justificar os recordes históricos de queimadas, o ministro inflamável chegou a dizer que o governo federal “não teve tempo” de cuidar do bioma.
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