Flordelis e o pecado triplamente qualificado
A deputada federal Flordelis foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em agosto de 2020 como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo. Indiciada por homicídio triplamente qualificado, associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso, a pastora foi acusada...
A pastora e deputada federal Flordelis foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em agosto de 2020 como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo.
Indiciada por homicídio triplamente qualificado, associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso, Flordelis foi acusada também de tentativa de homicídio por colocar arsênico na comida do marido.
Anderson foi assassinado com mais de 30 tiros na frente de casa, em 16 de julho de 2019. Segundo a polícia, os disparos foram efetuados pelo filho biológico de Flordelis, Flávio dos Santos, por ordem da mãe.
Ao acusar a deputada como mandante do assassinato, o MP do Rio afirmou que ela arquitetou, juntamente com os filhos, “toda a empreitada criminosa” para assassinar o pastor.
Sete filhos, sendo três biológicos, além de uma neta da deputada, foram acusados pelo crime e presos.
Flordelis só não foi para a cadeia por ter imunidade parlamentar. Deputados e senadores só podem ser detidos se forem pegos em flagrante, cometendo crime inafiançável.
Segundo o Ministério Público, a deputada mandou matar o marido por “vingança vil e abjeta” porque ele mantinha “rigoroso controle das finanças do grupo familiar”.
“Tudo era um grande enredo para ela alcançar a propulsão financeira e política, com a ajuda dos familiares”, afirmou o delegado da Divisão de Homicídios de Niterói, Allan Duarte, responsável pelo caso.
A denúncia apresentada contra Flordelis relatou ainda que Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva da deputada, planejou e ajudou a convencer outros dois filhos da parlamentar a executar o pastor.
Segundo o MP do Rio, Marzy tinha uma “fidelidade canina” a Flordelis e queria ser a “filha favorita” dela.
Em uma troca de mensagens com um de seus filhos, a deputada disse que o assassinato de Anderson seria a única saída:
“Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus.”
Em sua primeira entrevista depois de ser denunciada, Flordelis se disse inocente e afirmou estar “vivendo o pior momento da minha vida”.
“Não estou preparada para ser presa, e não vou ser. Porque eu sou inocente, e a minha inocência será provada. Eu não matei, eu não fiz isso de que estão me acusando. Eu não fiz. Não é real, não é verdade. É uma injustiça.”
Poucos dias depois de ser acusada pelo MP, a deputada enviou um pedido de socorro em um grupo de WhatsApp da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara do Deputados.
Em sua mensagem, pediu “pelo amor de Deus” para não ter seu mandato cassado.
Flordelis foi afastada da bancada evangélica. Seu partido, o PSD, suspendeu a filiação da parlamentar e preparou sua expulsão.
O caso continuou ganhando novos contornos ao longo do segundo semestre de 2020. Um homem que disse ter sido obreiro da igreja da deputada contou à polícia que Flordelis atraía fiéis para ter relações sexuais com ela.
Outras duas pessoas também disseram em depoimento que a pastora fazia rituais sexuais em casa, organizava orgias com o marido e os filhos adotivos.
Uma das depoentes afirmou ter reconhecido a deputada quando foi a um culto da igreja dela: “Ela frequenta a mesma casa de swing que eu frequento na Barra.”
Em setembro, a Justiça do Rio de Janeiro determinou que a deputada fosse monitorada por tornozeleira eletrônica e que permanecesse em casa das 23h às 6h.
Na decisão, a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, citou fatos “novos e graves” narrados por uma das testemunhas do caso, a empresária Regiane Ramos. Em depoimento, ela afirmou que uma bomba foi jogada em seu quintal para intimidá-la.
No mesmo mês, a deputada pediu ao Supremo Tribunal Federal para ser liberada do uso da tornozeleira e afirmou ser vítima de “perseguição por parte da opinião pública”. A ministra Cármen Lúcia rejeitou o pedido para retirar o aparelho.
Especialista na manipulação de pessoas, dissimulada, perigosa e cruel. Foi assim que o Ministério Público descreveu a deputada, que ainda não foi presa porque a Câmara dos Deputados não parece estar muito disposta a cassar seu mandato.
Em 2009, a vida da pastora Flordelis deu origem a um filme estrelado por atores globais que enaltecia o seu trabalho humanitário com jovens carentes, muitos dos quais ela levara para casa.
Saudade das chanchadas.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)