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Facções tentam controlar abrigos no RS

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4 minutos de leitura 24.05.2024 11:10 comentários
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Facções tentam controlar abrigos no RS

Crise humanitária causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul revela a presença de facções criminosas nos abrigos

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Facções tentam controlar abrigos no RS
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Diante da crise humanitária desencadeada pelas fortes enchentes no estado do Rio Grande do Sul, abrigos emergenciais foram montados nas cidades de Guaíba e Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, para acolher cerca de 5 mil pessoas que tiveram que deixar suas casas.

No entanto, entre as famílias em busca de auxílio, também havia membros de facções criminosas, é o que revela reportagem da BBC News Brasil. Relatos de pessoas que trabalham nos abrigos afirmam que essas facções chegaram a dividir fisicamente os espaços e a selecionar locais estratégicos para abrigar seus integrantes.

Facções tentam controlar distribuição de alimentos

Segundo um dos envolvidos nos trabalhos nos abrigos, que preferiu não se identificar, as facções determinaram quais salas pertenciam a cada grupo e tentaram controlar a distribuição de alimentos. Esse comportamento evidencia o poder das facções nas comunidades, afirma o sociólogo Rodrigo Azevedo, professor de direito na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que falou ao site de notícias.

Azevedo ressalta que esses grupos já dominam esses territórios no cotidiano e procuram manter seu controle mesmo em situações de emergência. Por isso, é crucial a presença do poder público e da polícia para garantir a segurança nos abrigos.

No entanto, o domínio das facções nos abrigos durou apenas alguns dias. Após o terceiro dia de crise, os abrigados foram realocados em espaços menores, com limite de ocupação de até 120 pessoas, descentralizando assim o poder das facções.

Ao mesmo tempo, foram registrados 65 boletins de ocorrência relacionados a crimes durante as enchentes, principalmente furtos e roubos. O secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Sandro Caron, reconhece que os criminosos tiveram mais facilidade para atuar nos primeiros dias da tragédia, já que as forças de segurança estavam focadas nos resgates.

Bala na Cara e Os Manos

Um relatório do Ministério da Justiça aponta que o estado possui 15 facções criminosas atuantes, sendo que apenas duas delas têm abrangência estadual: Bala na Cara e Os Manos. No entanto, Azevedo destaca que facções como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), consideradas as maiores do país, não têm interesse em penetrar no estado pois a região Sul não é uma rota importante de tráfico de drogas para a Europa.

Apesar disso, CV e PCC ainda realizam negócios com criminosos da região. Além dos furtos a residências, houve saques em lojas próximas ao aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. As principais mercadorias alvo desses saques foram aparelhos eletrônicos e pneus.

Facções tentam recuperar prejuízo

Especialistas afirmam que esses crimes têm indícios de terem sido planejados por facções criminosas como forma de recuperar parte do prejuízo decorrente das enchentes. No entanto, o secretário Caron afirma que essas ações foram cometidas por quadrilhas especializadas não ligadas às organizações.

A violência e a criminalidade nos abrigos se tornaram uma preocupação durante a crise. Pessoas abrigadas, especialmente mulheres, relataram medo de abusos e desconforto por conviverem com desconhecidos em um ambiente compartilhado. Diante dos registros de crimes, o poder público inaugurou alojamentos exclusivos para mulheres e crianças.

Crimes sexuais em abrigos

Segundo Caron, 54 pessoas foram presas dentro dos abrigos por crimes sexuais, agressões, violência doméstica e furto. Na maioria dos casos de abuso, o autor do crime era familiar da vítima e os abusos já ocorriam anteriormente. O secretário ressalta que essas prisões ocorreram devido à presença da polícia nos abrigos.

Após as perdas sofridas pelas facções durante as enchentes, os especialistas preveem um aumento nos roubos e furtos como forma de compensação. A polícia está atenta a essa possibilidade e pretende agir para evitar uma escalada de crimes, principalmente contra o patrimônio.

O secretário destaca que medidas estão sendo tomadas para sufocar as facções criminosas e evitar o aumento da criminalidade nas áreas afetadas. Serão construídas instalações provisórias para abrigar as pessoas desalojadas até que possam retornar às suas casas. O objetivo é evitar uma maior presença do crime organizado nessas áreas mais remotas.

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