Exército na trincheira contra apostas esportivas
Novo guia do Exército busca conscientizar sobre os riscos das apostas esportivas, visando proteger a saúde mental e financeira dos militares
João, um militar ativo e apixonado do futebol, começou a fazer apostas nos resultados dos jogos como uma forma de entretenimento. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, inicialmente, ele teve algumas vitórias, o que aumentou seu entusiasmo. Contudo, com o passar do tempo, suas apostas tornaram-se mais frequentes e as perdas começaram a superar os ganhos, levando-o a acumular uma dívida substancial.
O vício em apostas começou a impactar gravemente a vida de João. Ele passou a dedicar menos tempo à família e aos amigos, focando cada vez mais nas apostas. Sua saúde mental deteriorou-se, com níveis crescentes de estresse e ansiedade devido às perdas financeiras.
Essa história fictícia de João é utilizada em uma cartilha desenvolvida pelo Exército Brasileiro para conscientizar os militares sobre os perigos das apostas esportivas online, as chamadas bets. A iniciativa visa prevenir que praças e oficiais se tornem endividados e sofram problemas psicológicos, comprometendo suas vidas pessoais e profissionais, registrou o jornal paulista.
Ação preventiva do exército
O guia “Prevenção ao Vício de Apostas” está disponível no site da Diretoria de Assistência ao Pessoal do Exército. Além disso, o conteúdo é abordado em palestras conduzidas por oficiais, psicólogos e assistentes sociais em mais de 600 unidades militares no país.
Embora não haja estatísticas precisas sobre a magnitude do problema, ele foi mencionado pelo general Alcides Valeriano de Faria Júnior, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx), durante uma aula para jornalistas no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) no Rio de Janeiro. Segundo o general, as apostas eletrônicas tornaram-se uma preocupação significativa para as Forças Armadas.
Oficiais entrevistados pela Folha destacam o temor de que o vício em apostas online possa levar a extremos, como aumento nas taxas de suicídio entre os militares. Nas palestras, os especialistas explicam que o vício pode causar problemas físicos e mentais, como ansiedade e depressão. Há também o receio de que a dívida crescente devido às apostas possa levar os endividados a cometer crimes, como furto de armas em quartéis para pagar agiotas.
Problemas associados ao vício em apostas
- Perda de controle
- Sintomas de abstinência
- Problemas psicológicos
- Danos sociais
- Persistência no jogo apesar dos riscos
- Problemas familiares, sociais e profissionais
Impacto na missão militar
Além de afetar a saúde física e mental dos militares, o vício em apostas compromete a capacidade dos indivíduos de cumprirem suas missões. “A prevenção visa garantir que o militar esteja apto a cumprir suas responsabilidades“, afirma o capitão Souza Dias, da Diretoria de Assistência ao Pessoal. Ele descreve a cartilha como um “documento vivo”, que precisa ser atualizado continuamente devido à evolução dos jogos online.
O alerta sobre o problema começou no ano passado, quando oficiais identificaram casos de vício em seus comandados. “O Exército é um reflexo da sociedade. Se o problema está na sociedade, eventualmente chegará à Força“, ressalta o capitão.
Sintomas de vício em jogos
- Passar muito tempo em telas
- Pensar frequentemente em jogos
- Sentir-se ansioso ou tenso sem jogar
- Gastar dinheiro descontroladamente em jogos
- Aumento da irritabilidade
- Necessidade constante de estar conectado
- Mentir sobre o tempo gasto jogando
- Sentimento persistente de culpa
- Isolamento social e indisponibilidade
- Problemas de organização e procrastinação
O guia, publicado inicialmente em 17 de julho de 2023 e atualizado em maio passado, tem como objetivo sensibilizar a “família militar” sobre a importância da identificação precoce dos fatores de risco associados ao vício em apostas e orientar a busca de ajuda.
“O vício em jogos provoca danos semelhantes aos de outros problemas de saúde mental“, afirma o documento. “O tratamento precoce é essencial para aumentar as chances de recuperação.“
A cartilha também orienta que os comandantes recebam os militares com transtornos de jogo “sem julgamentos”, incentivando a busca por ajuda profissional.
Iniciativas complementares
A Marinha e a Aeronáutica também estão atentas ao problema. A Força Aérea Brasileira (FAB) lançou o Programa de Educação Financeira (PEF), que aborda os gastos com apostas. A Marinha, por sua vez, implementou diversas iniciativas de prevenção e conscientização, como palestras e rodas de conversa.
Rodrigo Machado, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, destacou ao jornal paulista a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento de viciados em jogos, envolvendo psiquiatras, psicólogos e grupos de apoio. A família também desempenha um papel crucial no sucesso do tratamento, dificultando o acesso do paciente às finanças e dispositivos eletrônicos.
“O perfil dos pacientes inclui jovens e adolescentes, que frequentemente chegam ao tratamento levados por suas famílias“, explica Machado.
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