Exclusivo: caciques do PP fazem lobby por farmacêutica que prepara IPO
O ministro demissionário da Saúde, Eduardo Pazuello, conversou na segunda-feira 15 com representantes da chinesa Sinopharm, para discutir a produção no Brasil do IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), como revelado por O Antagonista. A iniciativa é fruto do lobby de caciques do Progressistas (PP)...
O ministro demissionário da Saúde, Eduardo Pazuello, conversou na segunda-feira 15 com representantes da chinesa Sinopharm, para discutir a produção no Brasil do IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), como revelado por O Antagonista.
A iniciativa é fruto do lobby de caciques do Progressistas (PP).
Nas últimas semanas, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, recebeu telefonemas e cartas de apelo de parlamentares do PP, como Ciro Nogueira, Fausto Pinato e até Arthur Lira, o presidente da Câmara.
Diante do fiasco do plano nacional de imunização, Pazuello já vinha sendo pressionado a buscar alternativas para garantir a vacinação da população — e, obviamente, Marcelo Queiroga, novo ministro, herdará a missão.
A produção nacional do IFA não parece ser uma solução tão rápida quanto comprar vacinas prontas, mas os parlamentares acreditam que o Brasil pode se tornar autossuficiente e até exportar para a América Latina.
Nos contatos com Wanming, Pinato insistiu numa parceria específica entre a Sinopharm (China National Pharmaceutical Group Corporation) e a farmacêutica brasileira Blau (ex-Blausiegel), de Cotia (SP).
“Entendo ser a melhor opção para atender ao Ministério da Saúde”, escreveu, anexando ao ofício uma carta do laboratório (leia abaixo).
Presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, Pinato também endereçou um texto ao presidente Xi Jinping, ressaltando seu compromisso com “a proteção e o fortalecimento das relações bilaterais” e fazendo referências a Ciro Nogueira e Arthur Lira (leia abaixo).
As gestões políticas dos caciques do PP podem ter as melhores intenções, mas ligaram um alerta na CVM, já debruçada sobre o caso da Petrobras.
No início do mês, a Blau Farmacêutica ingressou com um pedido de IPO (oferta pública de ações). Eventual fato relevante, como o fechamento da parceria com a Sinopharm, poderá impactar no valor das ações da companhia.
Preservativos
Fundada pelo empresário Marcelo Hahn no final da década de 1980 como revendedora de preservativos, a Blau cresceu no rastro de outra epidemia: a de HIV. Depois, diversificou o portfólio com hemoderivados e medicamentos para tratamento de câncer, vendendo para grandes redes hospitalares e governos.
Hoje, as compras governamentais representam 15% do faturamento da farmacêutica.
Com a abertura de capital, noticiada pela Forbes Money com informações da Reuters, Hahn venderá uma participação no negócio. Os recursos obtidos seriam usados para “acelerar investimentos em pesquisa e desenvolvimento, expandir na América Latina e pagar dívida”.
Em 2017, a Blau virou notícia por causa de um contrato sem licitação com o Ministério da Saúde, então comandado por Ricardo Barros (PP), hoje líder do governo. Na ocasião, o deputado federal Jorge Solla (PT-BA) denunciou à PGR suspeita de direcionamento da compra de lfaepoetina (R$ 65 milhões), para tratamento de doença renal.
Médico sanitarista, Solla questionou o contrato com a Blau Farmacêutica, uma vez que a Fiocruz fornece o mesmo medicamento. O caso foi parar no TCU.
“Nem sei o que é IPO”
Questionado sobre a eventual relação do lobby para a farmacêutica de Cotia com o IPO que ela está em vias de fazer, Fausto Pinato afirmou a O Antagonista que desconhecia a operação de mercado e que a indicação da Blau para a parceria com a Sinopharm partiu dos próprios “chineses”, que o alertaram sobre a certificação da Anvisa. “Nem sei o que é IPO.”
“Os chineses tinham me falado, mandei minha assessoria fazer uma triagem. Daí falei com o diretor da Blau, que me disse que havia investido R$ 200 milhões para fazer vacina, antes mesmo da pandemia. Ninguém do partido me indicou o laboratório”, afirmou.
O Antagonista contatou a Blau Farmacêutica, que não quis se manifestar oficialmente. Um executivo, que pediu reserva, disse que a empresa foi procurada por Pinato a pedido dos chineses, confirmando a versão do deputado. O executivo disse também que a ideia do IPO teria partido dos bancos.
“Foi por causa do certificado que recebemos da Anvisa. Hoje, nós somos o único laboratório que pode produzir o insumo, envasar e rotular. Fomos procurados até pelo Instituto Butantan. Com a escassez de insumo e vacinas no cenário mundial, produzir nacionalmente é fundamental.”
A oferta inicial da Blau é de R$ 750 milhões, mas a captação pode chegar a R$ 1 bilhão. A preocupação de integrantes da CVM é que a ação política possa contaminar a operação de mercado, com políticos (ou prepostos) adquirindo lotes de ações cujo valor pode disparar com o acordo com a farmacêutica chinesa.
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