Ex-tenente-coronel acusa todas as unidades da PM-SP de terem caixa 2
"Quem falar que não tem está mentindo", disse José Afonso Adriano Filho em entrevista à 'Folha de S.Paulo'
Apontado como líder de um dos maiores esquemas de corrupção da história da Polícia Militar de São Paulo, o ex-tenente-coronel José Afonso Adriano Filho afirmou que todas as unidades da corporação estão envolvidas em esquemas de desvio de verbas públicas, por meio de caixa 2.
“Todas as unidades [gestores executoras da PM] têm caixa 2. Todas [as 104] têm. Quem falar que não tem está mentindo”, disse o ex-tenente-coronel em entrevista à Folha de S.Paulo.
Preso desde 2017, Adriano Filho contou ao jornal que o esquema montado por ele funcionou entre 2005 e 2012, desviando mais de 2 milhões de reais dos cofres do estado de São Paulo para as contas particulares de oficiais da PM.
“BNDES dos coronéis”
O ex-coronel também revelou que mantinha cerca de 150 mil reais em espécie em um cofre instalado na sala dele para atender aos pedidos dos oficiais e que o dinheiro era utilizado para financiar projetos particulares, como festas e aluguel de imóveis para amantes.
Adriano Filho disse ter se tornado uma espécie de “BNDES dos coronéis”, fazendo repasses que, como não tinham a obrigação de serem devolvidos, tornaram-se doações.
Todos os comandantes tinha conhecimento
Adriano Filho afirmou que todos os comandantes da PM tinham conhecimento do esquema e citou nominalmente alguns oficiais que teriam se beneficiado, incluindo o coronel Alvaro Camilo, ex-comandante-geral e atual subprefeito da Sé.
A esposa de Camilo também foi acusada de usufruir do esquema de caixa 2, pleiteando, por meio ajudante de ordens de Camilo, major Marcelo Hideo Takarabe, uma verba para dar ternos de presente ao marido.
“Ele [Takarabe] descia na minha sala, falava que precisava levar o do mês [de Camilo], precisava levar 5 mil reais. Dava 5 mil reais. Teve uma vez que ele chegou, eu tenho na memória, informando que a esposa do comandante pediu 14 mil reais para fazer compra de roupas. Peguei, dei os 14 mil reais. Se ele entregou ou não, não é problema meu”, afirmou.
O ex-tenente-coronel estima ter feito um repasse de 150 mil reais a Camilo no período.
Outro suposto cliente de Adriano Filho foi o desembargador militar Eduardo Orlando Geraldi, coronel da PM paulista, que, segundo ele, começou a pegar dinheiro quando comandava uma unidade da corporação na capital.
“[A primeira vez] foi lá no QG [quartel-general]. Bateu na porta e falou assim: ‘Eu estou precisando de um dinheiro’. Aí, dei dinheiro. Teve um depósito. Teve mais depósitos que eu guardei. Então tem um depósito aqui que é de 15 mil reais. Tem outro de 7 mil reais, tem outro de 8 mil reais. No total, foram uns 120 mil reais”, disse Adriano.
O que dizem os citados por Adriano Filho?
À Folha, o coronel Alvaro Camilo disse determinou o afastamento de Adriano Filho assim que soube das supostas irregularidades.
“Esclareço que quando eu era Comandante-Geral, em 2011, assim que soube de supostas irregularidades, determinei imediata apuração, afastei o ex-PM de suas funções e o transferi de unidade. O resultado dessas investigações culminou em sua condenação pela Justiça, perda de sua patente e salário. Esse assunto já foi investigado pelo MP e restou arquivado.”
Em nota, o desembargador militar Orlando Eduardo Geraldi afirmou que as acusações foram investigadas e arquivadas.
“Não há o que comentar, porque estas acusações feitas no passado foram arquivadas pelo Ministério Público.”
A Polícia Militar de São Paulo afirmou que os crimes até o momento comprovados são de extrema gravidade e que as investigações estão em curso. Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado e mais de 5 mil processos foram auditados, resultando na abertura de 244 novos IPMs. Até o momento, oito foram finalizados com indiciamento e duas condenações.
A PM ressalta que Adriano Filho também foi condenado na esfera administrativa à perda do posto, da patente e de seus vencimentos. Outros 148 IPMs foram arquivados e 88 estão em instrução, mas seu conteúdo não será divulgado devido ao sigilo legal.
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