ENTREVISTA: “Não presenciei nenhum ato de corrupção, mas basta olhar a ficha corrida de muitos aí”, diz Rubem Novaes
O economista Rubem Novaes, que está deixando o comando do Banco do Brasil, diz que foi mal interpretado ao dizer que não se adaptou à cultura de "privilégios, compadrio e corrupção de Brasília". As declarações levaram dois senadores a convidarem Novaes para se explicar. "Eu não quis dizer, de maneira nenhuma, que presenciei atos de corrupção." Em entrevista exclusiva a O Antagonista, Novaes garante que está deixando o banco por se achar "velho demais" para a função. "A gente nessa idade fica perigoso, fala demais. Pode ver na concorrência, os demais bancos têm executivos de 60 anos. Eu estou com 75." Novaes defende o desinvestimento feito em atividades menos rentáveis durante sua gestão e diz que as privatizações só não avançaram por causa da Covid e das regras da administração pública. Ele explica o embate com Bruno Dantas por causa da publicidade digital do Banco do Brasil e revela que enviou toda a documentação sobre anúncios em blogs e canais do Youtube ao ministro Alexandre de Moraes. "Ninguém vai achar nada de errado."...
O economista Rubem Novaes, que está deixando o comando do Banco do Brasil, diz que foi mal interpretado ao dizer que não se adaptou à cultura de “privilégios, compadrio e corrupção de Brasília”. As declarações levaram dois senadores a convidarem Novaes para se explicar. “Eu não quis dizer, de maneira nenhuma, que presenciei atos de corrupção.”
Em entrevista exclusiva a O Antagonista, Novaes garante que está deixando o banco por se achar “velho demais” para a função. “A gente nessa idade fica perigoso, fala demais. Pode ver na concorrência, os demais bancos têm executivos de 60 anos. Eu estou com 75.”
Novaes defende o desinvestimento feito em atividades menos rentáveis durante sua gestão e diz que as privatizações só não avançaram por causa da Covid e das regras da administração pública.
Ele explica o embate com Bruno Dantas por causa da publicidade digital do Banco do Brasil e revela que enviou toda a documentação sobre anúncios em blogs e canais do Youtube ao ministro Alexandre de Moraes. “Ninguém vai achar nada de errado.”
- O que o senhor destacaria de sua gestão nesses 18 meses? O mais importante foi o correto direcionamento do capital para aquelas atividades mais rentáveis do banco. Deslocamos as operações, principalmente para pessoas físicas e pequenas empresas, onde o banco tem vantagem comparativa muito grande. Nos desfizemos de alguns ativos que não tinham o menor sentido. Saímos do IRB, da Neoenergia, privatizamos nosso banco de investimento, estávamos num processo de parceria para a venda da DTVM, programamos um IPO para sair de uma parte da sociedade no Votorantim, estávamos procurando sair do BB Americas, mas fomos atropelados pela Covid-19.
- Mas muitas das empresas consideradas as joias da coroa nem sequer entraram no plano de desinvestimento… O problema é que essas empresas têm rentabilidade muito grande, como a asset, seguros, têm retorno muito superior à atividade de crédito do banco. Não é fácil você convencer o TCU de que precisa privatizar algo que dá lucro. Você precisa provar a vantajosidade da operação, que vai ter mais retorno colocando aquele recurso em outra atividade, que no caso do banco é o crédito. Não pode simplesmente sair privatizando.
- Sua saída tem a ver com isso também? Não, nada a ver. Você não é obrigado a acreditar, mas eu, desde que entrei, queria ficar no máximo dois anos. Estou fazendo 75 anos, a agenda é muito carregada. Tem uma agenda pública que os presidentes do Itaú, do Bradesco e do Santander não têm. E eles são bem mais jovens. O mais velho deles é o Candido (Botelho Bracher), que vai fazer 62. Quando você chega na minha idade, fica até meio perigoso. Velho é igual criança e acaba falando o que não deve. Veja o Celso de Mello, nosso decano, sempre foi exemplo de serenidade. Agora, diz que os generais vão depor debaixo de vara, que Bolsonaro é Hitler… A gente fica irreverente demais. E acho que o Banco do Brasil precisa mesmo de alguém mais jovem e antenado com as mudanças do mercado, opening bank, fintechs e big techs. Google e Facebook estão chegando no setor. Eu falo para o Paulo Guedes que gosto de viajar com passagem de papel na mão.
- Dois senadores (Kajuru e Randolfe) querem convidá-lo para que o senhor explique algumas declarações sobre ter testemunhado atos de corrupção durante sua gestão. O sr pretende aceitar o convite? Pode falar concretamente? Eu não quis dizer, de maneira nenhuma, que presenciei atos de corrupção. Só disse que a cultura em Brasilia é de privilégios, compadrios, existe o hábito de se criar dificuldade para vender facilidade. É só olhar a folha corrida de muitos aí. Não estou falando de nenhum fato que presenciei dentro do Brasil ou do governo. Pelo contrário, acho que no governo Bolsonaro e nas empresas do BB você não tem isso, nem de leve. Mas está impregnado na cultura de Brasília.
- O senhor também criticou duramente a proibição do TCU sobre a estratégia de anunciar em blogs e canais bolsonaristas. Não forneceu informações sobre os beneficiários. Alguém com sólida formação liberal não deveria ser a favor da transparência e contra o uso de recursos públicos para comprar apoio? Essa não era a lógica do PT que se queria combater? Essa decisão do TCU de cancelar a nossa propaganda por meios digitais é um negócio de um absurdo total. Eles paralisaram a propaganda que está ficando mais importante para a empresas. Isso está gerando um prejuízo enorme. O site que dizem propagar fake news recebeu desde 2019 apenas R$ 2,8 mil. Essa propaganda é automática. A gente diz para o Google o programa e o público alvo e o algoritmo deles escolhe onde deve aparecer o banner. Nós recorremos, tentei ser recebido pelo Bruno Dantas diversas vezes, falei até com o presidente do TCU. Ele deveria colocar o caso para o plenário decidir. De qualquer maneira, enviamos a relação de tudo o que fizemos em marketing digital para o ministro Alexandre de Moraes. Ninguém vai achar nada de ilegal.
- O senhor criticou a cultura de privilégios de Brasília, mas o Banco do Brasil continua com o PAET e suas bonificações milionárias. Não é um contra-senso? Antes era pior, pois o sujeito saída do banco por vontade própria e recebia indenização milionária. Nós acabamos com isso, mas ainda há aposentados com direito adquirido.
- Sua gestão manteve em cargos de diretorias, e até como VPs, funcionários associados às gestões petistas, como é o caso de Walter Malieni. Por que não trocá-los? Você sabe muito bem que numa instituição do tamanho do Banco do Brasil é impossível. Os bons funcionários acabam sendo aproveitados, porque precisamos ter em postos chaves pessoas competentes. Muitos trabalharam na administração do PT, mas o sujeito quer ascender como profissional, virar gerente, diretor, é o sonho vida dele. Isso não quer dizer que ele vá atender à política partidária, a interesses escusos.
- Ainda sobre compadrio, o senhor nomeou logo que chegou, como assessor especial, o filho do vice-presidente Hamilton Mourão… O filho do Mourão é qualificadíssimo, foi o melhor colocado nos testes internos, é especialista em questão agrícola. Eu podia indicar três assessores, um deles foi ele. É extremamente competente e fiquei muito satisfeito. Ele não está mais na minha assessoria. Agora é gerente-executivo da área de Marketing e Patrocínios.
- Mas a especialidade dele não era agricultura? A área de Marketing é extremamente técnica, a impessoalidade é enorme, como já disse. Garanto a você que no governo Bolsonaro não teremos nenhum Henrique Pizzolato no Banco do Brasil.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)