Entenda impactos de decisão do Banco Central Europeu Entenda impactos de decisão do Banco Central Europeu
O Antagonista

Entenda impactos de decisão do Banco Central Europeu

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 21.07.2022 18:34 comentários
Brasil

Entenda impactos de decisão do Banco Central Europeu

O Banco Central Europeu (BCE, na foto) se reuniu hoje (21) e aumentou sua taxa de juros em 50 pontos-base, para zero, a primeira alta em mais de uma década...

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 21.07.2022 18:34 comentários 0
Entenda impactos de decisão do Banco Central Europeu
Foto: Thomas Wolf, Wikimedia Commons

O Banco Central Europeu (BCE, na foto) se reuniu hoje (21) e aumentou sua taxa de juros em 50 pontos-base, para zero, a primeira alta em mais de uma década. Num passado longínquo, os juros negativos foram empregados para ajudar a estimular a economia e facilitar o financiamento dos países da zona do euro, tornando seus custos de empréstimo mais baixos.

Isso foi fundamental para reverter a crise dos PIIGS (sigla traduzida para o português: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), sob o comando de Mario Draghi, o mesmo burocrata que hoje pediu renúncia do cargo de primeiro-ministro italiano e que acaba de causar a dissolução do Parlamento pelo presidente, horas atrás.

O mercado estava dividido entre 25 e 50 pontos-base em sua previsão para a alta histórica. A dúvida é porque o BCE tem sido o banco central mais dovish do mundo —basicamente, o último desenvolvido a tomar medidas contra a inflação. Isso inclusive impactou mais a zona do euro do que todos os outros países, uma vez que ela é dependente energeticamente da Rússia, que sofre alta de mais 300% nos preços do gás natural.

Sendo assim, se a inflação lá foi a maior em 40 anos, por que demoraram tanto para reagir? Porque, diferentemente de outros países, o BCE não é ligado ao Tesouro Nacional de seu país (como no caso do Brasil e dos EUA) pelo fato de que cada país tem independência fiscal, apesar de dividirem a mesma moeda.

Logo, em momentos de crise, países fiscalmente responsáveis, como a Alemanha, viram destino de recursos, enquanto países mais gastadores, como a Itália, começam a ter que pagar cada vez mais caro para se financiar. No fim, isso compromete ainda mais suas contas nacionais. Não havendo moeda própria para desvalorizar, o ajuste de risco para cada país acontece diretamente nos juros pagos, o que cria uma dinâmica idêntica àquela vista uma década atrás, na última crise europeia.

Uma vez que esse movimento de deterioração já começou há meses, o BCE ficou com medo de jogar mais lenha na fogueira ao subir os juros, já que isso aumentaria ainda mais os custos de captação dos países. Por outro lado, ele precisava se mover, dado que, quanto mais a inflação subia, mais os juros reais ficavam negativos —o que aumentaria a inércia inflacionária.

Algo precisava ser feito, senão os problemas apenas se agravariam dos dois lados. E foi exatamente o que aconteceu: a falta de atitude do BC fez com que o euro caísse 20%, chegando a tocar a paridade com o dólar (um para um), algo não visto há 20 anos.

A solução começou a aparecer na última reunião, quando o BCE comunicou que não faria nada, mas que estava criando um plano especial pelo qual ele poderia comprar a dívida de países que estavam com os preços de sua dívida em espiral degenerativa. Mesmo sem os detalhes da decisão, isso estancou a deterioração das dívidas e mudou um pouco a dinâmica negativa do euro.

Hoje, com a alta mais forte que a esperada e com o anúncio formal do TIP (nome dado ao programa de compra dívidas dos países periféricos), o mercado financeiro respira um pouco mais aliviado: pelo menos algo está sendo feito para combater os dois grandes problemas da inflação e do financiamento da dívida.

Por outro lado, isso também aumenta a probabilidade de recessão. Mas, no momento, o mercado parece mais preocupado com as questões de curto prazo. O TIP não se sustenta por muito tempo, uma vez que será necessária alguma mudança na forma como os periféricos gastam, de modo a evitar que as coisas sejam apenas adiadas.

Para nós, isso pode mudar um pouco a dinâmica de apreciação do dólar, visto que o euro se torna mais atraente na margem. Além disso, o BCE entrando em campo ajuda a melhorar a percepção de risco do mercado como um todo, beneficiando os ativos financeiros em geral. Antes tarde do que nunca.

Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações.

Nota: movimentos na economia europeia causam impactos nos mercados de todo o mundo, incluindo o Brasil, e você precisa estar preparado para não ser pego de surpresa. Especialista em macroeconomia, Rodrigo Natali se dedica diariamente para levar a você as melhores sugestões de investimentos em qualquer cenário. Na série “Você Gestor”, com o auxílio do analista Nícolas Merola (CNPI), Rodrigo faz a gestão de uma carteira multimercado em tempo real. Conheça o “Você Gestor” clicando aqui.

 

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Visualizar notícia
2

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
3

Jaguar se rende à cultura woke e é alvo de críticas

Visualizar notícia
4

Toffoli remói a narrativa dos grampos de Youssef

Visualizar notícia
5

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
6

Kassab projeta Tarcísio presidente até 2030

Visualizar notícia
7

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
8

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
9

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
10

Autoridades de EUA e Israel criticam mandado de prisão do TPI contra Netanyahu

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Alemanha Banco Central Europeu BCE Espanha Grécia Irlanda Itália juros negativos Mario Draghi Portugal Rússia taxa de juros
< Notícia Anterior

PM confirma cinco mortos no Complexo do Alemão, mas Defensoria diz haver mais 15

21.07.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Cesar Maia será candidato a vice de Freixo no RJ, diz site

21.07.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Alerta laranja do Inmet para risco de chuvas intensas. Veja as regiões

Alerta laranja do Inmet para risco de chuvas intensas. Veja as regiões

Visualizar notícia
Morre Iolanda Barbosa: Um olhar sobre o Alzheimer

Morre Iolanda Barbosa: Um olhar sobre o Alzheimer

Visualizar notícia
Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
Mega-sena acumula e prêmio do próximo sorteio chega a R$ 18 milhões

Mega-sena acumula e prêmio do próximo sorteio chega a R$ 18 milhões

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.