Em uma coisa Augusto Aras e Rodrigo Janot são iguais
Durante todo o seu mandato à frente da PGR – que se encerra hoje – Augusto Aras procurou ser uma espécie de anti-Rodrigo Janot...
Durante todo o seu mandato à frente da PGR – que se encerra no final do expediente desta terça-feira (26) – Augusto Aras (foto) procurou ser uma espécie de anti-Rodrigo Janot.
Janot ocupou a PGR no auge da Lava Jato. Deu suporte às forças tarefa que permitiram que procuradores se dedicassem exclusivamente ao trabalho em grandes casos de corrupção. Confrontou parlamentares e ministros do STF. É lembrado pela frase “enquanto houver bambu, lá vai flecha”.
Aras criticou a Lava Jato, desmontou as forças tarefa e evitou fazer marolas na política. Não disparou flecha nenhuma e deixa o cargo carregando a pecha de ter sido subserviente a Jair Bolsonaro, o presidente que o nomeou.
Em uma coisa, no entanto, os dois procuradores-gerais devem coincidir.
Assim como Janot, Aras não deve pedir aposentadoria logo depois de deixar o cargo, para não perder o foro privilegiado no Superior Tribunal de Justiça. Deve gastar férias e licenças acumuladas ao longo do tempo enquanto analisa a direção dos ventos.
Muita gente gostaria de ver Janot investigado por supostas omissões no desempenho do cargo – por exemplo, quando ele se negou a abrir processos contra o Jair Bolsonaro durante a pandemia.
Outros gostariam de vê-lo investigado pela amizade com o empresário Meyer Nigri, que o acionou ao saber que poderia ser alvo de um inquérito pelo compartilhamento de mensagens de teor golpista.
Caberia ao próximo Procurador-Geral da República dar início a uma ação desse tipo. Dentro do Ministério Público Federal, no entanto, quase ninguém acredita que isso vá acontecer, seja porque as omissões de Aras sempre se traduziram em pedidos de arquivamento encaminhados ao STF (e em geral subscritos por seus auxiliares), o que lhes daria respaldo formal, ainda que não moral; seja porque as informações até agora disponíveis sobre o relacionamento com Meyer Nigri não são suficientes para indicar a existência de um crime como a advocacia administrativa.
Mesmo assim, deixar a segurança do foro privilegiado a troco de nada não seria uma jogada prudente de Aras.
Para todos os efeitos, a disputa pela indicação de Lula para a sucessão de Aras continua no mesmo ponto há semanas: afunilada entre Paulo Gonet, que conta com o apoio de varões da república como os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, e Antônio Carlos Bigonha, cujo nome é referendado por petistas como Rui Falcão e Humberto Costa.
Procuradores da República não acreditam que nenhum dos dois candidatos tenha como prioridade abrir uma temporada de caça a Augusto Aras. Mas Bigonha, além de cercado de petistas, é um sujeito fechado e de difícil leitura. Nunca se sabe.
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